segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Sem uma música pra cantar e uma mulher pra amar, não existe dignidade.

Homem sozinho vira bicho.

Estou aos poucos voltando à humanidade.

Do lado de cá, com a barba recém feita e os cabelos mais ou menos arrumados, até acho que ela tem uma carinha interessante. Curvas e tal. Cabelo preto. Pra quê iria querer mais? Minha vida, afinal, sempre foi uma sinuca de mil bolinhas. E é tentando encaçapar ao menos uma que acordo todos os dias.

Mas essa coisa de pensar e de conversar até tarde com os amigos dá uma baita canseira.

Ainda mais quando o seu time perdeu e existem no mínimo umas trinta cervejas na cabeça.

No outro dia você acorda e não sabe onde deixou o celular. Entra no MSN e só então se dá conta de que esqueceu o dito no carro do Ozzy, aquele camarada que é parceiro desde os tempos de faculdade e certamente ainda vai ser parceiro por muito tempo ainda. Fica meio assim, meio assado, mas enfim se conforma e deixa estar. E nessa tonteira é que se vai a segunda-feira inteira.

Não existe nada como a modernidade. Ou a pós-modernidade. Não é mais preciso enfrentar filas: um clique no saite certo e tudo se resolve. Virtualmente, óbvio, porque o dinheiro que sai da sua conta é pra lá de real. E no fim sempre sobra mês no final do dinheiro. Mas é a sina dos vinte e poucos anos.

O bacana é uma amiga dizer também pelo MSN que a auauzinha dela está com câncer e em breve irá morrer. Diz também que o exemplar canino tem dezesseis anos e cresceu com ela. Lembro nesse momento que a amiga tem vinte e quatro anos e que portanto foram oito anos que passou distante da sua auauzinha. Mesmo assim, ela diz desabar em lágrimas por conta da proximidade da morte da bendita.

O fato é que o sentimento dilata o tempo. Dizem até que existe paixão imediata, dessas de colar o olho e feito: quer casar, ter filhos e participar da gravação de um comercial de margarina. Nunca me aconteceu algo assim mas não duvido que aconteça. O que me faz acreditar nisso, é que certas coisas que andam passando pelo meu coração não tem os mesmos vinte e quatro anos que tenho e mesmo assim me amassam de uma maneira cruel.

Sabe quando seu peito é uma esponja na qual um lutador de sumô sentou? E sabe quando tudo isso aparece quando você está sozinho em casa, com a televisão ligada pra dar a impressão de companhia? E mais ainda: sabe quando você, além de estar de ressaca por conta das cervejas, está numa tremenda ressaca moral?

A quem interessar possa, é por aí que caminham as pernas dos meus sentires neste início de semana. Fico tentado a fechar o cartório das coisas que sinto. Longe de selos e qualquer carimbo, aboliria todas as certidões com um decreto: a partir deste momento, nenhuma sensação, nenhum sentir, nenhum sentimento, esse batimento da pele, terá nome, mas sim apenas será. Desse decreto em diante, talvez as coisas mudassem completamente de rumo e eu até aceitasse que oito anos ou meio segundo tem a exata duração quando se trata do coração. Talvez até mesmo achasse algo na minha vida que pudesse agarrar e dizer: nasci pra isso.

Mas enquanto nenhuma dessas coisas acontece, estou aqui voltando à humanidade.

Já juntei o lixo, tirei o pó, passei pano no chão, limpei o banheiro e lavei a louça. Só comida não fiz, porque aí já seria pedir demais. Mas chego a me entusiasmar ao perceber que quando quero, sou um exemplar do sexo masculino deveras prendado. Porém friso: quando quero. Nos outros momentos sou o preguiçoso que fala demais e não suporta ficar fungando por causa do ventilador.

Mas como falava, homem sozinho vira bicho porque as coisas perdem o nome. É a mulher que põe nome nas coisas do homem e dignidade no estômago e no peito do homem.

Por isso o sentir é o sentido do peito. Sem isso, só essa dor do retorno. É preciso sair pra fora de vez em quando, nem que seja pra botar o lixo que tiramos. Dentro as coisas são selvagens.

Quanto mais real o espelho, mais reflexo que gente ele passa a ser. E reflexos não tem pele. Gente é que tem pele.

Mas ter uma banda de rock seria muito legal. Sem uma música pra cantar e uma mulher pra amar, não existe dignidade.

7 comentários:

Unknown disse...

já cansei de ouvir tais agurmentos!

pensar disse...

Acho demais a tua facilidade de escrever, de se expor.Tem me sido tão recompensador encontrar tuas palavras.Obrigado.
Bjs

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

Tem dias que eu também canso de respirar e nem por isso os pulmões param, Jonatan.

Lótus disse...

O sentido do peito nem sempre respeita a vontade, aliás, ele tem vontade própria, tantas vezes inconveniente e indigna. Mas o alento é que com vontade se faz muitas outras coisas, como limpar a casa, botar o lixo para fora e, por que não, comida gostosa. Uma boa música e mais um pouco de álcool... logo, estou certa, terias uma mulher para amar!

Anônimo disse...

Eu tb deixei meu cel no carro do Ozzy..kkkkk

Briguei com meu gerente do Banco! pra variar!
hahahha

Anônimo disse...

olá,tudo bem?Vi vc no blog do Fabro,esse texto arrasou...parabéns!!
Bjos,Juliana

Anônimo disse...

oi... a tv ligada pra garantir cia .. ainda ligo o som... acho que gosto de multidão hehhe
adorei cada linha .....
em especial deste texto...
grande upa negrinhu e parabens mais uma vez ....