sábado, 18 de setembro de 2010

NOVO BLOG.

Chegou o dia.

Novo blog no ar.

Nome de batismo: NÃO É CÉU.

Endereço: http://www.naoeceu.blogspot.com/.

O INSUFILME permanecerá no ar. Mas sem promessa de novas postagens.

Agradeço a todos que me acompanharam até então.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DEMORA.

Sim. Não lancei o novo blog ainda.

Tenho uma penca de textos prontos. Mas nada dele aparecer.

A razão é simples: não sei como batizar o espaço.

Mas espero que isso logo se resolva.

Espero, mas também não prometo nada.

Porém, que o tal coirmão surgirá, isso garanto.

Quando é que não sei.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

NOVIDADES.

Em breve esse blog ganhará um coirmão. Ou um vizinho híbrido. Ou seja: outro espaço desse que há quase dois anos aparece por aqui. Aguardem.

sábado, 24 de abril de 2010

ESQUECIMENTO DE CHUVAS.

As desculpas esvaeceram assim que olhou o oceano e percebeu em todos os faróis abajures. As coisas tomavam um alcance diverso, como sonhos que se materializam em água descendo pela corrente com as ondas que as algas traçam nas pedras. Pressentiu a voz do filho subindo a escada. Seus passos eram o silêncio cerzindo fissuras vermelhas.

Cada abraço tomava o rumo dos seus propósitos. As ruas, os parques, os lagos que freqüentava surgiam a todo instante sob seus pés, pairando indecisos diante da consciência espiral dos pensamentos sepultada por símbolos de razão.

Sufocar aquele feixe era loucura.

Era hora de aceitar, assinar palavras com a letra miúda que desacreditava, endossando o engano com a tinta que emergia. Deixar de lado essa decisão não fazia sentido algum. Podia sentir a pele e ouvir sua respiração pausada dentre casulos de sonho maculando seu dorso tingido. A maquiagem dos lábios, das sobrancelhas, os poros de cada milímetro da face bastavam para convencer de que a vida, culpada pela calma e pelo fracasso, encontrava-se naquela sensação, sorvendo o desespero amanhecido do cinzeiro transbordado.

Os espelhos finalmente perderam seu fundo raso. Podia sentir o toque brando da inocência envolvida pelo líquido que lhe enchia a boca. Tudo aquilo não apenas orbitava seus cabelos, mas dava ao futuro a impressão plena de um campo desconhecido, repleto de manchas lilases: gramado que cegava e duplicava sua extensão no momento em que era fitado. As torres eram erguidas pelo rubor violeta das veias, contornadas por algum circuito de folhas e outonos até então lapidares, emudecidos por epitáfios de uma língua amordaçada.

Precisaria filmar, registrar aquilo para que outros pudessem sentir o que lhe fez escorrer abaixo do pensamento. Mas era algo demasiado íntimo para ser compartilhado, resignando-se ao consolo da transformação parcelada pela memória.

Não interessava o crédito que lhe concederiam. Não importavam as taças que ergueria, os corpos que beijaria ou o que suas mãos tocariam com aquela descoberta. O mergulho valia mais, bastando o salto completo para que os olhos mudassem, verde ao azul, cindindo espelhos com sua luz perolada.

Sabia que o salão se estendia além da vista e que o vinho descia pesado até o estômago para que a magnésia tivesse motivos. Mas a doença nos lábios continuava sendo a ressaca de uma exceção, dos risos na madrugada de domingo enquanto decidia aquilo que almoçaria.

Não havia beleza na privação, não havia vitalidade na perda e nas desculpas. O que havia era o resto, o refugo, o refluxo do lixo do fracasso – andar pelas calçadas querendo ruas, desejando rodas por cima dos ossos: vidas ao caos, vidas ao limbo de cada manhã e relógio, tudo consumindo o vômito preso nas frestas do corpo, decidido a tornar-se sangue quando engolia o gosto da derrota.

Quando o chamassem para alguma festa, diria que preferia dormir. Diria que o dia afetava sua pele fazendo surgir espinhas pelos cílios. Fecharia a porta a quem pedia sua presença pela mera formalidade de estar. A verdade só existia no abandono, na flor da janela mais alta morrendo em esquecimento de chuvas.

Esse cheiro de profundeza agora não mais lhe mataria. Essa placa de aço que construíra, permaneceria intacta como o ventre da mãe, como o irmão que não nasceu, como a interrupção dos dentes no suco da fruta. Esqueceria da imagem que um dia fez de si. Sabia que a espiral se alongava pelo ralo.

Em porções sem forma, as folhagens perdiam cor. Resumiam-se a exercício esquecido, relampejando as paredes da sala. O retrato ao lado, as torneiras negando o petróleo e suas mãos trêmulas de nicotina disfarçavam a solidão imensa do oceano violáceo, invocando razões para a desrazão na plenitude do que podia imaginar e lembrar.

Mas não adiantava falar. Tudo que saia de sua garganta era mera formalidade para ganhar a vida. Ninguém estava interessado.

O que havia eram olhares vidrados em cabeçalhos e rodapés repletos de nomes mofados, suando anfetamina na saliva de alguma teoria.

Tudo denunciava a verdade paliativa de uma região natimorta, estirada inconsciente na cama de um bordel para que a fila de clientes aumentasse em sua mortalha azulada. A revolta jamais ocorreria fora das palavras e não passava de um engano da idéia, de uma lógica furtada de humildade, imersa no barro que cruza por baixo das pontes.

E mesmo assim continuaria.

Respirou um gole de café e seguiu o curso dos riscos no quadro, da sistematização cruel e fria de conceitos que não eram seus. Quando a hora chegou, foi embora pela mesma rua. Tinha vergonha. Estava condenado a viver consigo naquele lugar.

Restava contentar-se com obrigações e com a permanência da ignorância feliz em cada rosto bem arrumado. Talvez mulheres fossem consolo se houvesse compaixão pela inutilidade do corpo. Mas estava na terra das noites úmidas de gritos e prazeres, o que rasgava qualquer possibilidade de esperança longe do delírio do luto.

Isso bastou para que uma tranqüilidade de olhos discretos chegasse até ele.

Havia qualquer coisa de absoluto em seu contorno. Talvez fosse rímel, talvez o som da retina perturbando o silêncio do Cosmo. Ouvir sempre lhe parecera uma profanação da realidade, onde o próprio fato de respirar e não se encontrar no vácuo era uma prova dessa violação.

Só aí, no ponto final que deveria atingir, esticou os braços para a ausência de segredos no vórtice daquele que fora. E o esquecimento que desejava sugou-lhe pelas encostas, calmo e castanho como o solfejo das nuvens pelas redes submersas na previsão do passado.

Crédito da imagem: Fotografia de Marcos Villas Boas.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O NASCIMENTO DO CIDADÃO.

Quando no Brasil se deu o parto da República, do seu ventre, décadas depois, um homem foi expelido sem vida. Nasceu nu, como todos. Mas por questões éticas, arranjaram-lhe um macacão azul. Ninguém ao redor teve ânimo para reanimá-lo. Não era conveniente. O temor por um coração que pulsa é maior que o medo por um coração que pára.

O Cristão que estava ali, versado na engenharia das mais belas torres, disse que, em nome de Giordano, o Bruno, deveriam conservá-lo em formol. “A eternidade da carne só num pote de vidro se dá!”, emocionou-se teomante e mescalino. O Moralista, mais ao lado, clínico das sangrias infalíveis, falou que aquele homem serviria, qual mito teofobista, de exemplo para todos os homens: “Sua roupa será a bandeira de toda gente de bem.”, profetizou costumado e sério pela poeira da romanidade. Mas o Democrata, ao centro, gravura de reta conduta, emudeceu em princípio, apesar da grande expectativa daquele ar de tabaco.

Pediu sussurrante ao garçom um pote grande o suficiente para que o homem coubesse e fosse lá conservado. Encomendou duzentos e cinqüenta litros do mais limpo formol para que o homem ficasse acomodado e visível em seu macacão azul. Convocou as lupanares para uma conversação que não se deu e escreveu em letras garrafais quais seriam as regras para que o homem resistisse aos séculos. Sem qualquer manifestação das vozes ao redor, também decidiu que aquelas regras deveriam ser impressas em letra miúda imediatamente, colando-se as mesmas no pote do homem imerso no cristalino líquido dos seus amanhãs.

Ecce homo!”, entoaram trezentas laringes ao contemplar a bela natureza morta em cima da mesa. Mas quando o Cristão, o Moralista e o Democrata perceberam que a República, à Príapo amordaçada, desfalecia perto do balcão, intuíram que algo faltava ao homem. “Se até Jesus dos Magos ganhou presentes, também merece nosso homem algum.”, especulou o primeiro. “Mas que presente se dá a um natimorto?”, enervou-se o segundo, privado das Traças de Lácio.

Fez-se então um silêncio de trinta minutos. Nenhum olhar sabia como presentear o homem do pote de vidro. Heranças longínquas rebuscavam suas mentes e tudo quanto podiam fazer era se inspirar na cachaça. O pote continuava aberto. Faltava, antes de fechá-lo, um toque que dissesse da identidade daquele homem cercado de letras miúdas, morto filho que fizera da República mãe, ainda que o genitor chamado M. houvesse partido para as Terras do Norte há vários anos.

Foi aí que o Democrata, exegeta do torno de Coimbra, lembrou de uns papéis que viu em França e de umas chaminés que em Londres o encantaram. Igualmente lembrou da escultura de um Olho que vira às portas de uma viagem que fizera ao interior da grandiosa América de Washington, apagando imediatamente, por não convir, tudo que um calvinista lhe dissera. Num clarão que reuniu as faíscas do seu cérebro na mais performática luz, percebendo a rigidez verde-amarela da República de pupilas secas, enfim pronunciou: “Dar-lhe-e-mos uma brilhante coroa dourada para que o pote seja fechado. Providenciaremos réplicas de cera desse homem e espalharemos tais potes por todo nosso território. Serão a base e o modelo para o povo. A República, que jaz sem expectativa de coito há quatro horas e meia, agora chamar-se-á Estado. E dessa soma ptolemaica, soberano, surgirá nosso Estado-Nação!”

Os aplausos ressoaram pela madrugada tropical. Copos foram lançados ao ar e vestidos, antes presos às ancas das moças da casa, caíram aos eretos desejos presentes. Porém, o Moralista se deu conta de que faltava mais alguma coisa. “Toda coroa representa majestade. Temos de dar um nome a essa coroa.”, falou dentre lufadas de fumaça presas pela boca que lhe sugava a língua. “Estamos a trazer a Cidade de Deus para o cá dos homens. Estás certo: precisamos de um nome para a coroa.”, inquietou-se o Cristão à Agostinho, escondendo-se da carne cada vez mais nítida na sua batina marrom.

O Democrata, famoso por suas cantatas gregas de direito e justiça nas cadeiras de tantos boleros, havia esquecido o óbvio. Enovelado por seu discurso de passados, o adjetivo da coroa havia lhe escapado ao Verbo, fiat lux do porvir. “Chamar-se-á Coroa do Voto. Sim: seu nome será A Coroa do Voto.” “Mas e o nosso homem que nome terá?!”, gritou de espasmo uma mulher nos seus vinte e dois anos, com a anágua pela cintura e um outro alguém por cima. O Cristão fitou o Moralista que cerrou as pálpebras para o Democrata. Restou a esse a resolução daquela noite histórica: “Seu nome será Cidadão.”

O que se passou depois, dizem, não foi nada demais. Tratava-se do Brasil. A expressão que trouxe o sol para a festa que seguiu, até hoje é estampada na testa de cada homem que aqui nasce vivo ou morto: “Deixa estar.” Seu autor, desconhecido estrangeiro de Alexandria, perdeu-se no vinho interminável – e naquele prostíbulo tudo permaneceu imune ao tempo. Mas um grave erro adveio dessas brincadeiras de salão: esqueceram de fechar o pote do Cidadão.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O JOGO.

Acordou do amor. Queria lembrar dos braços dele. Não conseguia. Queria lembrar das mãos, dos cabelos. Não conseguia. Lembrava um rosto estranho que quanto mais próximo, mais distante ia. Havia aprendido jogos que escondem cartas debaixo da manga. Mas sempre fora às claras. Se uma briga ir madrugada adentro, com pratos voando pela janela, ótimo. Mas se as coisas forem feitas como se faz em escritórios, tornando o sentimento uma questão corporativa, pedia a conta. Relações não são contratos, ainda que a conveniência dite as normas de tudo.

Mas como pedir o fim? Chegar com um “acabamos”? Seguir os conselhos da Cláudia ou da Nova? Nada parecia real. Tudo tinha cheiro dos argumentos dele, ironias que detinham coices, coices que detinham afagos e afagos adiados pelo horário e pela filha que morava noutra cidade.

O dia era cor de chumbo quando deu partida no carro. Havia neblina por detrás dos morros. Talvez aquilo dissesse algo: a neblina também era cinza. Mas ela sabia que coisas não dizem nada além delas mesmas. Entrar nesse jogo de relacionar tudo com tudo, seria idêntico ao pôquer no qual se encontrava sua vida. Esqueceu ou tentou esquecer desses detalhes, ignorando as piscadelas que a memória queria escavar.

Como manhã e domingo, com certeza ele estaria dormindo. Pela madrugada havia enchido a cara, dado fiasco ao cantar no palco de um pub qualquer e transado com “alguém fim de festa”. Mas havia acontecido ou tudo era tão sem lógica quanto a neblina atrás dos morros? Não passava de suposição. Mas toda loucura têm raiz naquilo que se supõe.

Quando chegou, desligou o motor e o suor das mãos. Desceu, caminhou pela calçada que separava o jardim da porta. Ao apertar a campainha pela primeira vez, ninguém atendeu. Esperou, apertou novamente. Ninguém. Colou o polegar no botão e foi aí que ouviu uns passos perto da porta.

“Sim?”, disse um homem nos seus setenta anos, vestindo bermuda xadrez e camiseta de campanha de vereador. “O senhor mora aqui?”, perguntou. “Sim.”, respondeu o velho com cara sonada, cabelos brancos espetados pelo travesseiro, braços com manchas roxas, rosto molhado pelo tapa frio da água.

Ela franziu a testa, olhou para baixo e depois para o número da casa. 985. Não era engano. Há um ano freqüentava aquele lugar. Final de semana sim, final não. Até nos dias da semana, quando o trabalho gerava o despudor do pós-trabalho e o remédio para a tristeza era sexo e cerveja, às vezes estava ali.

“A senhora deseja alguma coisa?”, quis saber o outro, coçando olhos de sono com costas de mãos transparentes. “Não...”, disse rouca, “acho que me enganei de número...”.

Voltou devagar, pela calçada, separando o jardim da porta. Já não queria o fim. Queria um começo. Imaginava um recomeço sem conhecimento seguro, exato do quê. Por que ele não estava na casa lilás 985? Por que saiu de lá de uma hora para outra? Puxou o celular da bolsa. Telefone dele desligado. Entrou no carro como entrando num lugar pela primeira vez. Sabia só que era manhã e domingo e tudo cinza. A neblina dos morros era falta de cor como seu carro cinzento. Tudo o mais, ausente. Por qual motivo não estava? E o celular desligado? Tudo era mudez. Fumaça em lâmpada fosca. Carta debaixo da manga. Suspensão na véspera de um golpe.

Quem sabe seu amar tivesse estancado, de tanto guardado, de um guardar avarento, sem porque, tudo jogado. Quem sabe nem árvores existissem e tudo não passasse de mera coincidência que brota da mesma forma que feijão do algodão dos jardins de infância de abandono espontâneo. Quem sabe tivesse demorado demais e tudo se tornara pálido, cartas marcadas, previsível. O amor, como um blefe, envelhecera antes de descer à mesa do jogo.

Conhecer todas as regras cinzenta.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CINCO FACES DE UM ENTARDECER.


Dedo na lâmina dos dias. Língua no gume das auroras. Vidro no tapete do destino. Face ao quebra-cabeça do espelho. Rastejando, carne e osso, chorar lágrimas que abrem garimpos nas cavidades do olhar que perdeu a si mesmo na distância que de si o separava. Nada virá: o pássaro continuará com os órgãos de suas asas por sobre ramagens e abismos que de longe parecem chama, mas são joelhos afiados por pedras e junções. Pouco esperar a não ser raios refletidos na terra. Vapores indizíveis maculam certeza e descaso. O indicador alheio é mais que solidão ou imagem narcisa. Desarmado, impressentido em pêlos e sêmen, beija feridas e sorri, eliminando a sombra dos passos na enxaqueca do presente que a tudo consome e confunde.


Extremo em declive e fosso. Mas também extremo em braços que batem o vazio das águas. “Pra onde?”, é a voz de alguém antecipando fatalidade. E na gangrena que queima, algum olhar no horizonte de plano e linha. Se nós e sedas irão cruzar um com o outro, não sabe. Se queixas podem ou não afetar futuros, não faz idéia. Bolores do tempo não pernoitarão seu sono. Trovões continuarão. Haverá prédios, ruas, riscos e satélites. Nas cócegas dos pulmões, arejados por culpa inocente, permanecerá. No peito somente estrelas do mar.


Caso, acaso: planície tenra de costas tortuosas. Caules dentre caules no vigor de cordas que massas criam. Juncos de lama e viço na fissura das pedras. É lilás a copa que vê. O pássaro é um quase-caminho para o que não sabe. Alça morada ao infinito que teme. Um fio mínimo sustenta a argamassa do entardecer. Cala com naco úmido o que era puro banho em seus cabelos. Assusta a pena que coça e já se duvida ciente. Mel não lhe escorre nem aspira velhice de dias e fumaças. Apenas ônus de um frescor furtado. Baforada infantil que logo passa.


Brilho. Lustre. Manchas cor-de-fome no corpo do desconhecido. Nos dias festivos ou quando há parafina, um canal do acaso pretende flores vermelhas altivas e orvalhadas onde só musgo verde e escorregadio pode nascer. Escada de nuvens modulando o eco de troncos agora tolhidos. Acena náufrago na torrente do asfalto. Cruza o areal da rua em incompletude que ofusca. Sombras correm por corredores de casas que não mais são. Calcam óleo e querosene em toda madeira que tenha intenção ao longe. Réstia de vela e música de alguma estrela ou planeta. Amnésia e cura que a tudo responde. Portanto vá mas volte, pois aquilo que alisa e limpa pode cair nesse exato delicado toque.


Brutalidade e chama. Esparrama atalho fugaz. Insinua farol do nada na certeza da lenha. A intenção da imagem pela imagem não se alcança. Mas algo gritou quando todos dormiram. No murmurar rouco de uma fonte avessa, soletrou luz negra de um passado calcário no mosaico das constelações. Beleza na curva de um rio de saliva, suor e sangue. Quando sonhou, divisou no silêncio o lamento da foto viva na lareira da sala. Seria imprecisão áspera e verídica de um beijo impossível. E seria homem: lâmina, fosso, acaso, lustre e chama de entardecer.

Crédito da imagem: Fran Setim, foto simples feita de um telhado. Ao entardecer, ouvindo Beethoven. “Beethoven é crepuscular”, diz ela.