quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Adiós goodbye, INSUFILME.

Esse blog já foi bom. Mas anda em decadência. Daqui uns dias ele completa um ano. E revendo os textos antigos, percebo que existe uma grande distância entre eles e o que ando escrevendo ultimamente. Talvez seja por conta de novas obrigações e compromissos que me surgiram. Ou talvez seja por conta de eu não conseguir fazer literatura nos últimos tempos. Quem sabe isso seja sinal para que eu dê um tempo para o blog. Ou para que eu pare de escrever por um bom tempo. Mas entre uma e outra alternativa, prefiro o meio termo. Ou seja: prefiro disponibilizar por aqui apenas aquilo que eu creio que seja bom e não textos ao deus-dará de qualquer bobagem que eu escreva.

Sei que não mereço o título de escritor. Ao contrário do meu ego inflado e daquilo que pensam os autores da maioria dos blogs da rede, prefiro não tatuar na minha testa essa palavra. Claro que vontade não falta. Claro que depois de ter escrito algumas coisas boas, você acaba pensando que sempre vai escrever coisas boas. Beira a arrogância. Mas acontece que não é assim que funciona. Não que tenha que fazer calor ou frio ou chuva para um texto sair bom. Não que a gente tenha que estar alegre ou triste para escrever algo decente. Ocorre que existem épocas nas quais a palavra simplesmente não sai como deveria, razão pela qual até mesmo tenho deixado de comentar os blogs dos leitores deste espaço.

Não digo que permanecerei em silêncio. Tagarela como sou, seria pedir demais. Seria quase uma tortura. Mas digo que tomarei maior cuidado antes de divulgar textos por aqui. A rede sempre é muito mais extensa do que a gente imagina. As palavras que aqui foram postadas chegaram a locais e pessoas que eu sequer poderia imaginar. Talvez por isso seja necessário esse esclarecimento ou seja lá o que isso for. Não que eu tenha vergonha do que escrevo. Pelo contrário, costumo dar muito valor para minhas palavras. Aí é que talvez se encontre o erro, porque quando a gente se apega demais a seja lá o que for, costuma fechar os olhos para certas coisas.

Então reconheço ou pelo menos tento reconhecer: o blog anda sim em franca decadência. E de agora em diante, ainda que ele esteja próximo do seu primeiro aniversário, não publicarei textos como de costume. Ficarei mais atento ao que publico. Isso não é sinônimo de interdição. É somente sinônimo de cuidado e respeito pela escrita. E se esse blog foi bom, quem sabe seja sinal de que pode voltar a ser bom. Mas temos de respeitar nosso momento na história. E nesse momento da história desse blog, era isso que eu tinha pra dizer.

Mas nada de adiós goodbye, INSUFILME. Apenas um aceno para a vergonha na cara e para o valor da escrita. E pronto.

A Síndrome do Pink & Cérebro.

Quarta-feira. Durmo de madrugada. Pelas quatro da manhã. Acordo cedo. Pelas oito. Venta e faz frio. Mas existem coisas pra resolver. Bato água gelada na cara, ponho um casaco e saio pra rua. Primeira parada: banco. Chego num dos ditos e vejo uma plaquinha: GREVE. Converso com uma funcionária e ela me informa que continuarão em greve até semana que vem. Digo que é uma luta justa. Quem ganha grana com os bancos são seus acionistas. Trabalhador que é bom fica com o refugo e olhe lá. A funcionária fica feliz com minhas palavras e esboça um olhar quarentão e azul pra mim. Estampa agradecimento. Talvez outra coisa, mas não ligo. Não estou com essa bola toda. Fico contente. Faço umas ligações, cancelo uns pagamentos e vou pra próxima parada: provedor de internet.

Estou sem internet desde terça de manhã. E pra quem necessita disso pra trabalhar, é um caos. Chego na empresa e falo pra uma moça dos meus problemas e da minha necessidade de internet. Ela me olha com olhar de babá e me pergunta: já ligou e desligou o computador? Acho meio estranho. Mas me faço de desentendido e digo que sim. OK, ela diz. Mas você já ligou e desligou a chave da luz? Fico sem munições para a resposta, mas afirmo que fiz isso e que inclusive, nessa madrugada, tive três quedas de luz. A moça, loirinha magrela, olha pra cima e formula outra pergunta: a página do login aparece? Já não sabendo o que dizer, respondo que não, que não dá sequer sinal e que meu computador não está com vírus porque tive que formatar ele semana passada. Fui salvo por um disco rígido que gravou meu estoque de filmes, músicas e textos e não apagou minha vida em bytes. Imagino, engenhando a resposta, que ela dará uma risadinha. Afinal, tentei ser engraçado.

Mas nada disso. Ela permanece séria e irreal como uma atendente de 0800. Eu, ao contrário, começo a ficar irritado. Será que levantei com cara de trouxa? Ou será que levantei com cara de criança? Deve ser porque trabalhei até tarde, estou com olheiras e com os cabelos espevitados por cima dos ouvidos. Deve ser por causa do meu cangol marrom que coloquei por pura preguiça de ajeitar minhas gadeias de gringo-alemão. Mas beleza. A cara de babá que ela fez inicialmente era prenúncio do que viria. A loirinha puxa um formulário e diz que vai fazer uma ordem de serviço. Na primeira hora da tarde tudo se resolverá. Saco do celular e olho o horário: 10 e meia. Questiono: não poderia ser de manhã? Ela arrebata: de manhã a equipe já está ocupada. Vira os olhos para o computador, dobra o formulário manchado de papel carbono e quer me despachar com o canto da franjinha que cai nos seus olhos.

Decido tomar uma atitude. Quer dizer, decido verbalizar uma atitude. Nunca fui de violência. Então digo: olha aqui, trabalho pela internet, tenho compromissos via e-mail e sem internet estou perdendo dinheiro. Logo, preciso da dita o quanto antes, pode ser? Penso que ela irá baixar a guarda. Fui contundente e rígido. Mas percebo que cometi um erro fatal: acabei minha frase com um “pode ser”. Ela me olha como quem olha pro seu priminho de cinco anos e diz: a ordem será cumprida na primeira hora da tarde. Como ela conseguiu me desarmar? Baixo a cabeça, coço a moleira, digo tchau e vou embora resignado.

Caminho no vento, penso na greve dos bancos e na moça do provedor de internet. Um dia terei a calma dos senhores que bebem uísque pra conspirar o futuro da humanidade. Mas presumo que meu desejo seja como o CCE no qual eu jogava Pac-man quando guri: ultrapassado. É a vida. Nada de palavras grandes como “magnificência”. Apenas frases curtas e gerundianas seguidas de greves e loirinhas com olhar de babá. Mas tento esquecer disso. Só espero que até a noite a internet volte. E que até segunda os bancos voltem. Quem me dera ter uma bandinha alemã em Tucunduva! Pode não ser grande coisa, mas é melhor que conviver com loirinhas de 0800 materializadas em mesas de provedores de internet. Qualquer coisa, sempre haverá a possibilidade de tocar teclado numa galeteria de Bento. De funiculí em funiculí e funiculá em funiculá, na próxima noite em claro irei dominar o mundo. É a Síndrome do Pink & Cérebro. E a sina de todo mundo que sonha tão, mas tão alto, que logo é achatado pela realidade. Mas meu CCE permanece no fundo do armário. Desejo que é desejo, nunca é ultrapassado. Vinte e poucos anos é assim mesmo. E chega de se lamentar.

sábado, 3 de outubro de 2009

Prognóstico (Parte I).

O ser humano não é o centro do mundo. Mas julga que é. A racionalidade é incompatível com nossas ações. E a maioria acredita no contrário. Nossa moralidade no mais das vezes é orientada pela mesquinharia. E justamente por isso menosprezamos tudo aquilo que não gira ao redor do nosso umbigo. Uma vida assim é uma vida egoísta. Uma sociedade assim é uma sociedade egoísta. E uma vida em uma sociedade assim terá o viver como um ato egoísta. E não temos praticamente nada que possa dizer que tudo isso irá mudar. É motivo para falar que a mesa está posta e não há o que possamos fazer? Uma paz assim será uma paz armada. Cada qual estará trancado em sua casa, em seu pequeno reino de consumo, esperando que o vizinho tussa para que o projétil ocupe abrigo. E o assassinato seria só uma redundância, uma manchete. Isso ocorre todos os dias quando julgamos as pessoas pela sua capacidade de consumo. Se determinado sujeito não consegue suportar essa realidade ou está à margem dessa realidade, disparamos nossa moralidade egoísta nesse sujeito. Essa é a razão das drogas, sejam elas compradas nas farmácias ou nas bocas de fumo – a diferença é inexistente, questão de glamour. É também a razão da aparente estagnação das nossas existências, trancafiadas em meio a imagens por sobre imagens que fazem com que cada vez mais o contato com o real não seja possível. Mas o que é o real? O que é a realidade? A resposta terá várias faces, cada qual cuspindo fogo na outra para que todos os olhares fiquem chamuscados. Mas ainda que seja dessa forma, a realidade não tem nada a ver com essa nossa moralidade de todos os dias. A realidade está naquele que passa fome. A realidade está naquele que passa frio. E tudo isso não ocorre apenas porque o governo não faz o que deveria e nem porque as empresas querem lucro e nada mais. Ocorre porque nós acreditamos que isso é normal, é corriqueiro, é fato para o rodapé dos jornais. Ocorre porque não conseguimos sair do cercado que construímos e permanecemos numa eterna vida de gado. Quem nos marcou? Qual é a mão que nas nossas costelas tatuou o ideograma de tamanha falsidade de maneira que sequer sentíssemos e até gostássemos do seu toque? Não tenho a resposta e muito menos tenho a intenção de responder essa pergunta. Mas quando um sistema atual está crise, a sua própria crise aponta o rosto do futuro. Se uma tragédia traz sofrimento para alguns, igualmente traz oportunidades para todos. A tragédia é uma oportunidade. Tudo gira na possibilidade de vermos que realmente uma tragédia está ocorrendo. Conseguimos ver isso se estamos correndo dia após dia vendo as pessoas como instrumentos e não como pessoas? Nascemos e morremos sós. Isso hoje é fato. Mesmo o sexo é um ato solitário. O prazer é como a vida: egoísta numa vida assim. Seremos capazes de sair desse círculo? Ou melhor: quando veremos que se trata de um círculo vicioso ao invés de um círculo virtuoso? A perspectiva de mudança é pouca. Mas existe. Não passa pela pureza da raça ou das idéias. Não passa por primados que digam que uma planta tem a mesma possibilidade de entender o mundo que um ser humano. Passa, por outro lado, pelo fato de que devemos reconhecer que antes de sermos morais, antes de sermos racionais e antes mesmo de vivermos em sociedade, existimos. Existimos desde o momento da concepção, muito antes do nosso olhar ser tocado pelas luzes da sala de cirurgia. Existimos antes de pensar, julgar e chegar a qualquer palavra. E é essa qualidade de existirmos que talvez dirá um rumo possível. Que rumo é esse? Uma reviravolta teocentrista, colando Deus no centro do real, ou um aprisonamento antropocentrista, sublimando o ser humano como sentença maior de tudo? Negativo. Precisamos recolocar a vida no centro do real. Precisamos, ao invés de comprometer ou interferir diretamente na vida, nos integrarmos com a própria vida para que outra vida seja possível. Poucos serão aqueles que terão coragem para isso. Poucos entenderão. Mudar dói. Mudar destrói. Mas a mudança é necessária assim como a dor é necessária. É a única possibilidade de sairmos desse deserto no qual nos encontramos. O ser humano pode não ser o centro do mundo, mas todas as possibilidades do mundo passam pelo ser humano. Por isso, isso: prognóstico primeiro de um sentimento não verbalizado, mas que, à parte qualquer dificuldade, passa diretamente por este olhar: precisamos recolocar a vida como centro do real.