Ninguém nunca me disse nada como você me disse naquele bar.
Lembro que escorria uma baba pelo canto da sua boca e que você sugava essa baba cigarro após cigarro. Lembro dos seus óculos grossos e da sua camisa azul-bebê. E lembro também que disse para você que seus problemas poderiam ser resolvidos lendo Fernando Pessoa. Mas hoje me dói não saber quem você é e não ter pagado mais algumas cervejas para você.
Você me contou que trabalhou no exército como engenheiro e que estava aposentado. Contou também que havia se divorciado e seus filhos não tinham mais contato com você. De vez em quando uma filha de Curitiba vinha lhe visitar. Fora isso era só você, sua aposentadoria e alguns serviços, os quais se tornavam cada vez mais escassos.
Confesso que cheguei a pensar que você achou que eu era bicha. Cheguei a pensar que você achou que eu conversava com você porque queria transar com você seja da forma que fosse. Mas apesar de ter pensado isso enquanto conversava com você, a cada palavra notava que de alguma forma eu poderia ajudar você e que não importava se você quisesse me comer ou quisesse que eu comesse você.
Se isso tivesse acontecido, aliás, eu não lembraria dessas palavras e minha vida talvez tivesse tomado um rumo completamente diferente. Quem sabe o mesmo ocorresse com a sua vida e existe até a possibilidade de que estivéssemos hoje morando juntos. Afinal, você me disse que gostava de literatura e eu sempre puxo conversa em bar com quem fala que gosta de literatura.
E como fui muito franco com você, talvez você não se deu por conta de que eu gosto é de mulheres e que homens não me interessam. Se um dia me interessarem, admitirei sem problemas. Mas hoje e naquele tempo, homens não me interessam a não ser para parcerias dentre cervejas e para amigos dentre conversas.
Porém, felizmente ou infelizmente, lembrando de você agora, vejo seus olhos cansados e amarelados por detrás dos óculos grossos, sua camisa azul-bebê amassada, o cigarro queimando seus dedos e a cerveja escorrendo água pela mesa da Brahma. Mas principalmente vejo você sugando aquela baba do canto da boca cigarro após cigarro.
Você me contou que fez muitas coisas erradas na vida e eu não lembro das coisas que você me contou. Mas lembro que você me contou que errou com seus filhos e com sua ex-mulher e que hoje se sentia completamente sozinho. Disse que de vez em quando pagava umas putas da Avenida Brasil e que isso era o máximo de amor que sentia. Além dessas putas, seu amor estava guardado nas fotografias.
O estranho é que não lembro se você falou que sentia algum arrependimento pelos seus erros. Lembro que você disse do seu apartamento empoeirado. Lembro da dúzia de cervejas que tomamos. Lembro que eu disse pra você ir pegar um Fernando Pessoa na Biblioteca Pública. Lembro da sua camisa azul-bebê e dos seus olhos cansados e amarelados. Mas não lembro de nenhum arrependimento em tudo que ouvi de você.
Como se passaram mais de cinco anos, talvez você nem esteja vivo e eu esteja inventando memórias. Talvez você tenha morrido e estas palavras se direcionem tão-somente ao nada, o que invariavelmente aconteceria, porque ainda que você esteja vivo, temos de convir que ler Fernando Pessoa não irá resolver nenhum problema seu. O que falei foi somente pra você deixar de se sentir sozinho e sentir que alguém já sentiu tudo aquilo que você sentia. Em cada cigarro e cerveja que compartilhamos, foi exatamente essa minha intenção. Se você percebeu isso, não sei. O que sei é que fui embora feliz naquela madrugada quase-manhã, pois pensei que havia ajudado alguém.
Mas é possível que alguém ajude alguém? É possível que tudo quanto falei para você tenha se perdido na ressaca que você teve? Chego a pensar que se você achou que eu era bicha, talvez tenha até se masturbado pensando em mim quando chegou em casa. Porém tenho de confessar que sua baba escorrendo pelo canto da boca era extremamente repulsiva e não sei como não vomitei ao ouvir aquilo chiado de lábios que não se continha cigarro após cigarro.
Hoje eu posso dizer que estou bem. Já quanto a você, não posso dizer nada. Lembro apenas que nossa conversa aconteceu em um Bar chamado Farroupilha em um mês de inverno de uns cinco anos atrás ou mais. Além disso, lembro que havia ido em uma festa no Clube Gaúcho e que estava um tanto exaltado por um Bukowski que havia lido há tarde. Mas o que me deixa tranqüilo é que eu não lhe indiquei Bukowski, mas sim Fernando Pessoa.
Ou será que isso foi um erro?
O Bukowski começa Hollywood com o seguinte parágrafo:
“Eu morava num conjunto de casas populares na Carlton Way, perto da Wersten. Tinha cinqüenta e oito anos e ainda tentava ser escritor profissional e vencer na vida apenas com a máquina de escrever. Iniciara esse curioso meio de vida aos cinqüenta anos. Mas não se pode viver sempre escrevendo, e havia muito espaço a preencher. Eu o preenchia com uísque, cerveja e mulheres. Acabei me enchendo da maioria das mulheres e me concentrei no uísque e na cerveja.”
Já o Pessoa começa Mensagem com o seguinte texto:
“Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e (a minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tornou o misticismo da nossa Raça.”
Em primeiro lugar, duas considerações: Fernando Pessoa era poeta e Bukowski era romancista, apesar de ter publicado alguma poesia.
Em segundo lugar, mais duas considerações: Fernando Pessoa era português e Bukowski era americano.
Em terceiro lugar, as últimas duas considerações: Mensagem do Pessoa não tem nada a ver com Hollywood do Bukowski.
Mas por qual motivo então essa duas obras me vêm às mãos quando lembro de você que sugava baba cigarro após cigarro e deixava a água escorrer do copo de cerveja na mesa da Brahma?
Talvez na verdade, enquanto você estava para o Bukowski que há tarde eu havia lido, eu estava para o Pessoa que toda noite lia e continuo lendo. Talvez enquanto você estava no amor das putas da Avenida Brasil, eu estava madrugando em algum livro ou escrevendo algum poema que jamais publicarei. Por isso é que talvez eu tenha feito um grande mal a você, porque a verdade é que tentei passar para você uma receita de mim.
Disse para você ler Pessoa. Disse para você não se sentir sozinho no mundo porque todos se sentiam sozinhos no mundo. E ouvi todas as suas histórias para esquecer de todas as suas histórias e lembrar apenas da repulsa que senti pela sua baba e pelos seus dedos queimados pelo cigarro.
Disse tanto para você, que hoje vejo que queria que você simplesmente tentasse compreender o mundo como eu compreendo. Queria apenas que você soubesse que as vozes estão por todas as partes e que se estamos sozinhos, ao menos nas ruas existem pessoas. Queria que alguém ouvisse alguns conselhos adolescentes e tivesse seus cinqüenta e poucos anos ouvindo os conselhos adolescentes de um Estudante de Direito. Queria que a lembrança do meu ego se transformasse no pó do seu apartamento e que talvez você até roubasse todos os livros do Fernando Pessoa da Biblioteca Pública.
E foi por conta disso que voltei feliz para casa, pensando que havia ajudado alguém, quando na verdade havia apenas falado do meu egoísmo, da minha falta de compreensão do outro e da minha extrema dificuldade em sair de mim ao tentar entender o outro.
Portanto, meu caro senhor, muito embora certamente você não lembre de mim, peço desculpas pelas minhas palavras. Peço desculpas pelos meus ouvidos e pela minha boca e até mesmo por você ter se aberto comigo da forma como se abriu. Talvez você tenha se enforcado no dia seguinte por culpa minha. Talvez sua vida tenha mudado completamente no dia seguinte por culpa minha. Mas fatos são fatos e o fato é que você certamente acordou de ressaca e apenas lembrou que um rapaz falou bastante do Fernando Pessoa em um Bar chamado Farroupilha e que isso foi tudo. O fato é que você certamente até pensou em ir na Biblioteca Pública, mas também pensou que um livro é apenas um livro e não uma pessoa, mesmo que eu desconfie que tenha prometido escrever um livro sobre sua história.
Se prometi, novamente peço desculpas, meu caro senhor, pois o máximo que escreverei sobre sua história serão essas frases que estão chegando ao fim. Talvez o futuro me traga algo, mas se eu for trabalhar somente com possibilidades, cairei na completa loucura. Afinal, talvez agora você esteja morto assim como eu agora esteja escrevendo.
E foi apenas aí que Pessoa e Bukowski ao mesmo tempo.
E por quê?
Porque as faces da solidão jamais podem ser sós. Sempre existem fotografias e apartamentos empoeirados. Sempre existe a angústia de ser e a saudade feita de pedra que jamais desmontará o passado. Sempre existe a engenharia do ontem construindo o prédio do hoje e os alicerces do amanhã. E sempre existem as mulheres que nos visitam nas memórias de camas e berços.
E o que sempre lembrarei, é que escorria uma baba pelo canto da sua boca e que você sugava essa baba cigarro após cigarro e eu sentia repulsa daquilo tudo e não compreendia você. Mas mesmo assim voltei para casa feliz. Até pensei que uma árvore seca pudesse ser o retrato do sol que nascia. Mas logo senti nojo de você e tudo se perdeu na decadência de mim. Restaram somente essas linhas. E minhas desculpas nada sinceras.
Lembro que escorria uma baba pelo canto da sua boca e que você sugava essa baba cigarro após cigarro. Lembro dos seus óculos grossos e da sua camisa azul-bebê. E lembro também que disse para você que seus problemas poderiam ser resolvidos lendo Fernando Pessoa. Mas hoje me dói não saber quem você é e não ter pagado mais algumas cervejas para você.
Você me contou que trabalhou no exército como engenheiro e que estava aposentado. Contou também que havia se divorciado e seus filhos não tinham mais contato com você. De vez em quando uma filha de Curitiba vinha lhe visitar. Fora isso era só você, sua aposentadoria e alguns serviços, os quais se tornavam cada vez mais escassos.
Confesso que cheguei a pensar que você achou que eu era bicha. Cheguei a pensar que você achou que eu conversava com você porque queria transar com você seja da forma que fosse. Mas apesar de ter pensado isso enquanto conversava com você, a cada palavra notava que de alguma forma eu poderia ajudar você e que não importava se você quisesse me comer ou quisesse que eu comesse você.
Se isso tivesse acontecido, aliás, eu não lembraria dessas palavras e minha vida talvez tivesse tomado um rumo completamente diferente. Quem sabe o mesmo ocorresse com a sua vida e existe até a possibilidade de que estivéssemos hoje morando juntos. Afinal, você me disse que gostava de literatura e eu sempre puxo conversa em bar com quem fala que gosta de literatura.
E como fui muito franco com você, talvez você não se deu por conta de que eu gosto é de mulheres e que homens não me interessam. Se um dia me interessarem, admitirei sem problemas. Mas hoje e naquele tempo, homens não me interessam a não ser para parcerias dentre cervejas e para amigos dentre conversas.
Porém, felizmente ou infelizmente, lembrando de você agora, vejo seus olhos cansados e amarelados por detrás dos óculos grossos, sua camisa azul-bebê amassada, o cigarro queimando seus dedos e a cerveja escorrendo água pela mesa da Brahma. Mas principalmente vejo você sugando aquela baba do canto da boca cigarro após cigarro.
Você me contou que fez muitas coisas erradas na vida e eu não lembro das coisas que você me contou. Mas lembro que você me contou que errou com seus filhos e com sua ex-mulher e que hoje se sentia completamente sozinho. Disse que de vez em quando pagava umas putas da Avenida Brasil e que isso era o máximo de amor que sentia. Além dessas putas, seu amor estava guardado nas fotografias.
O estranho é que não lembro se você falou que sentia algum arrependimento pelos seus erros. Lembro que você disse do seu apartamento empoeirado. Lembro da dúzia de cervejas que tomamos. Lembro que eu disse pra você ir pegar um Fernando Pessoa na Biblioteca Pública. Lembro da sua camisa azul-bebê e dos seus olhos cansados e amarelados. Mas não lembro de nenhum arrependimento em tudo que ouvi de você.
Como se passaram mais de cinco anos, talvez você nem esteja vivo e eu esteja inventando memórias. Talvez você tenha morrido e estas palavras se direcionem tão-somente ao nada, o que invariavelmente aconteceria, porque ainda que você esteja vivo, temos de convir que ler Fernando Pessoa não irá resolver nenhum problema seu. O que falei foi somente pra você deixar de se sentir sozinho e sentir que alguém já sentiu tudo aquilo que você sentia. Em cada cigarro e cerveja que compartilhamos, foi exatamente essa minha intenção. Se você percebeu isso, não sei. O que sei é que fui embora feliz naquela madrugada quase-manhã, pois pensei que havia ajudado alguém.
Mas é possível que alguém ajude alguém? É possível que tudo quanto falei para você tenha se perdido na ressaca que você teve? Chego a pensar que se você achou que eu era bicha, talvez tenha até se masturbado pensando em mim quando chegou em casa. Porém tenho de confessar que sua baba escorrendo pelo canto da boca era extremamente repulsiva e não sei como não vomitei ao ouvir aquilo chiado de lábios que não se continha cigarro após cigarro.
Hoje eu posso dizer que estou bem. Já quanto a você, não posso dizer nada. Lembro apenas que nossa conversa aconteceu em um Bar chamado Farroupilha em um mês de inverno de uns cinco anos atrás ou mais. Além disso, lembro que havia ido em uma festa no Clube Gaúcho e que estava um tanto exaltado por um Bukowski que havia lido há tarde. Mas o que me deixa tranqüilo é que eu não lhe indiquei Bukowski, mas sim Fernando Pessoa.
Ou será que isso foi um erro?
O Bukowski começa Hollywood com o seguinte parágrafo:
“Eu morava num conjunto de casas populares na Carlton Way, perto da Wersten. Tinha cinqüenta e oito anos e ainda tentava ser escritor profissional e vencer na vida apenas com a máquina de escrever. Iniciara esse curioso meio de vida aos cinqüenta anos. Mas não se pode viver sempre escrevendo, e havia muito espaço a preencher. Eu o preenchia com uísque, cerveja e mulheres. Acabei me enchendo da maioria das mulheres e me concentrei no uísque e na cerveja.”
Já o Pessoa começa Mensagem com o seguinte texto:
“Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e (a minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tornou o misticismo da nossa Raça.”
Em primeiro lugar, duas considerações: Fernando Pessoa era poeta e Bukowski era romancista, apesar de ter publicado alguma poesia.
Em segundo lugar, mais duas considerações: Fernando Pessoa era português e Bukowski era americano.
Em terceiro lugar, as últimas duas considerações: Mensagem do Pessoa não tem nada a ver com Hollywood do Bukowski.
Mas por qual motivo então essa duas obras me vêm às mãos quando lembro de você que sugava baba cigarro após cigarro e deixava a água escorrer do copo de cerveja na mesa da Brahma?
Talvez na verdade, enquanto você estava para o Bukowski que há tarde eu havia lido, eu estava para o Pessoa que toda noite lia e continuo lendo. Talvez enquanto você estava no amor das putas da Avenida Brasil, eu estava madrugando em algum livro ou escrevendo algum poema que jamais publicarei. Por isso é que talvez eu tenha feito um grande mal a você, porque a verdade é que tentei passar para você uma receita de mim.
Disse para você ler Pessoa. Disse para você não se sentir sozinho no mundo porque todos se sentiam sozinhos no mundo. E ouvi todas as suas histórias para esquecer de todas as suas histórias e lembrar apenas da repulsa que senti pela sua baba e pelos seus dedos queimados pelo cigarro.
Disse tanto para você, que hoje vejo que queria que você simplesmente tentasse compreender o mundo como eu compreendo. Queria apenas que você soubesse que as vozes estão por todas as partes e que se estamos sozinhos, ao menos nas ruas existem pessoas. Queria que alguém ouvisse alguns conselhos adolescentes e tivesse seus cinqüenta e poucos anos ouvindo os conselhos adolescentes de um Estudante de Direito. Queria que a lembrança do meu ego se transformasse no pó do seu apartamento e que talvez você até roubasse todos os livros do Fernando Pessoa da Biblioteca Pública.
E foi por conta disso que voltei feliz para casa, pensando que havia ajudado alguém, quando na verdade havia apenas falado do meu egoísmo, da minha falta de compreensão do outro e da minha extrema dificuldade em sair de mim ao tentar entender o outro.
Portanto, meu caro senhor, muito embora certamente você não lembre de mim, peço desculpas pelas minhas palavras. Peço desculpas pelos meus ouvidos e pela minha boca e até mesmo por você ter se aberto comigo da forma como se abriu. Talvez você tenha se enforcado no dia seguinte por culpa minha. Talvez sua vida tenha mudado completamente no dia seguinte por culpa minha. Mas fatos são fatos e o fato é que você certamente acordou de ressaca e apenas lembrou que um rapaz falou bastante do Fernando Pessoa em um Bar chamado Farroupilha e que isso foi tudo. O fato é que você certamente até pensou em ir na Biblioteca Pública, mas também pensou que um livro é apenas um livro e não uma pessoa, mesmo que eu desconfie que tenha prometido escrever um livro sobre sua história.
Se prometi, novamente peço desculpas, meu caro senhor, pois o máximo que escreverei sobre sua história serão essas frases que estão chegando ao fim. Talvez o futuro me traga algo, mas se eu for trabalhar somente com possibilidades, cairei na completa loucura. Afinal, talvez agora você esteja morto assim como eu agora esteja escrevendo.
E foi apenas aí que Pessoa e Bukowski ao mesmo tempo.
E por quê?
Porque as faces da solidão jamais podem ser sós. Sempre existem fotografias e apartamentos empoeirados. Sempre existe a angústia de ser e a saudade feita de pedra que jamais desmontará o passado. Sempre existe a engenharia do ontem construindo o prédio do hoje e os alicerces do amanhã. E sempre existem as mulheres que nos visitam nas memórias de camas e berços.
E o que sempre lembrarei, é que escorria uma baba pelo canto da sua boca e que você sugava essa baba cigarro após cigarro e eu sentia repulsa daquilo tudo e não compreendia você. Mas mesmo assim voltei para casa feliz. Até pensei que uma árvore seca pudesse ser o retrato do sol que nascia. Mas logo senti nojo de você e tudo se perdeu na decadência de mim. Restaram somente essas linhas. E minhas desculpas nada sinceras.