sexta-feira, 6 de março de 2009

Para uma Fortaleza.

Para uma Fortaleza.

Tua falta resseca a pele.
Tua falta recende vão.

Tua falta preenche falsa a tarde nublada e fria:
emerge e se sabe fogo, embaça o que acendeu,
forjando e limando solos de sopros que desfalecem.

Tua falta curva poentes e suja o que nunca foi:
deslinha tramas e redes, pescas fosforescentes
de seres que o enxofre cria no vapor do que destrói.

Tua falta é essa ilha, é meu farol e aceno,
vendo de longe a partida de amantes que não se sabem:
percorrem seus desencontros em cada esquina passada
que só a tua presença poderá me trazer presente,
no salto que enfim darei para no fundo encontrar
os corais que são teus cabelos presos por cada onda.

6 comentários:

gloria disse...

A falta é o lugar do espelho. Aquilo que não somos, não temos e nos habita como fantasmagoria; um tanto de nós que nunca chegou ou já se retirou sem pedir licença. Nascemos tão partidos, tão à deriva que nem sabemos ao certo para onde conduzimos a nau dos desejos. O que nos falta revela o que somos, mesmo no vácuo das imagens que teimam em permanecer borradas. “Tua falta é essa ilha e o farol o meu aceno”. Eu sempre me sinto tão só diante de um farol, é como se o aceno de luz não me alcançasse. É como se eu precisasse ter asas para seguir o curso da luz. E eu só tenho pernas. Minha fortaleza tem um torre de rapunzel e eu sequer tenho tranças. Fico tingida pelas cores de um por-do-sol que ilumina meu rosto e nem posso descer por esses raios que tangenciam o horizonte. Eu sou uma camponesa que apenas sabe plantar e colher algodão e tecer panos que possam cobrir meus desvarios. Sem máscaras. Nas noites, aguardo a visita do homem que lavra as minhas terras. Ele enxerga e eu me deito nos seus braços quentes e firmes. Brincamos de farol e ilha, permutando lugares e sinais. Homem dos escritos feito brasa, tu saberás tatear os fios de cabelos e segurar nas mãos os corais do fundo do mar. Saberás. E teu farol será ilha e tua ilha fertilizará. Como esses fios transmudados em palvras. bj

adri antunes disse...

nossa mto lindo! eu amo poesia! mas ao mesmo tempo carrego uma enorme frustração: porque escrevo para alguém que não tem interesse e nem gosta mto desse gênero e gostaria tanto de receber poesias como as suas desse mesmo ser!
por isso, não acredito em almas gêmeas, no máximo somos todos amantes, seja no sexo, no momento de pagar as contas ou dividindo um pouca da angústia por meio da literatura!
e assim, uns vão ao encontro do mais profundo oceano, enquanto outros divisam de longe um barco que se vai! mas o mar, é sempre o mesmo.
um bjuuu enorme e boa sexta!
tb te gosto, querii!

Biba disse...

Escrever assim é algo fabuloso. Eu amei os teus versos a cada segundo lido e relido. Não quero comentar nada além disso. Te espero no Carpe Diem.
Beijo carinhoso

pensar disse...

Que lindo!!!! Poderia refletir horas e horas esse poema(tão profundo e humano), mas paro por aqui, pois só te conheço por textos e não poderei ver tua visão somente a minha ou a que tenho vivencia-ainda que não esperimentada.
Fica um Carlos Drummond:

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo
amanhã beija, depois não beija
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguem sabe
o que será.

Bjs

adri antunes disse...

que bunitinhuu! um dia serei assim como vc, escreverei por escrever, por mim, pra aliviar uma angústia nascida de mim mesma e não de outro!
bjuu

Anônimo disse...

vejo aí poesia, feliz. penso que a alma de música de poeta é bem abençoada. abençoada a tua palavra nesse texto tão bonito. meus adjetivos pouco significam, mas sei o que sentem.