Guaxo ao chegar.
sou comuna ressabiado
que não segue o riscado
de qualquer camarada
sou Trótski meeiro
entre um mural de Siqueiros
e a soda da criançada
sou ativista passivo
sem gota de busto altivo
ou coloradas vestes
sou reles sonhador
covarde em meu Equador
anti-tributo à Prestes
sou rasura de mim
sou sempre o mesmo fim
sou orgia e Planalto
sou uma imunda puta
sou aquele que é truta
e cruza os braços num auto
sou só comiseração
arara da humilhação
mais Collor do que Guevara
sou um tal de I don’t no
mirrado num please don’t go
credor que estupra e ampara
sou facho de esperança
em raquítica criança
às margens de um altar
sou grito retumbante
que habita minha estante
todo Médici em seu ar
sou presidente eleito
num coração rarefeito
que mastiga o sofrer
sou cabeça da boca
cheirado e porraloca
global no modo de ver
sou ex-tropicálio usado
Brás Cubas acorrentado
na Disney da dissonância
sou lágrimas de Henfil
imigrante do frio
el fuego de mi estância
sou cria da parabólica
sou a marginal bucólica
sou Glauber que não é rocha
sou mais tiví que tevê
sou quem breca o auê
o que não leu mas atocha
sou do sul e do norte
sou estatística e morte
em filas à la Coimbra
sou gramático e correto
sou de um grupo seleto
que se borra e melindra
sou o sonho devastado
cachaceiro e mau-olhado
sou lamento perdido
sou o dia que amanheceu
sou a mãe que esqueceu
do filho e do Partido
e sou o couro que resiste
e sou o mar que insiste
sou quem quebra pena e tinteiro
pois eu tenho as forças
e talvez tenha as palavras
para destruir as travas
e um dia me ver inteiro
sou comuna ressabiado
que não segue o riscado
de qualquer camarada
sou Trótski meeiro
entre um mural de Siqueiros
e a soda da criançada
sou ativista passivo
sem gota de busto altivo
ou coloradas vestes
sou reles sonhador
covarde em meu Equador
anti-tributo à Prestes
sou rasura de mim
sou sempre o mesmo fim
sou orgia e Planalto
sou uma imunda puta
sou aquele que é truta
e cruza os braços num auto
sou só comiseração
arara da humilhação
mais Collor do que Guevara
sou um tal de I don’t no
mirrado num please don’t go
credor que estupra e ampara
sou facho de esperança
em raquítica criança
às margens de um altar
sou grito retumbante
que habita minha estante
todo Médici em seu ar
sou presidente eleito
num coração rarefeito
que mastiga o sofrer
sou cabeça da boca
cheirado e porraloca
global no modo de ver
sou ex-tropicálio usado
Brás Cubas acorrentado
na Disney da dissonância
sou lágrimas de Henfil
imigrante do frio
el fuego de mi estância
sou cria da parabólica
sou a marginal bucólica
sou Glauber que não é rocha
sou mais tiví que tevê
sou quem breca o auê
o que não leu mas atocha
sou do sul e do norte
sou estatística e morte
em filas à la Coimbra
sou gramático e correto
sou de um grupo seleto
que se borra e melindra
sou o sonho devastado
cachaceiro e mau-olhado
sou lamento perdido
sou o dia que amanheceu
sou a mãe que esqueceu
do filho e do Partido
e sou o couro que resiste
e sou o mar que insiste
sou quem quebra pena e tinteiro
pois eu tenho as forças
e talvez tenha as palavras
para destruir as travas
e um dia me ver inteiro
3 comentários:
Eduardo, e por falar em caótica, tenho sido mais, bem mais nos meus comentários. Esse aqui, decidi tecer na luz da manhã. Uma coisa é certa, assim vejo melhor nem que meus escritos me estranhem. Acredito em um nomadismo intensivo, sem que o corpo precise percorrer distâncias. Ativistas que atravessam vastos continentes, instauram em suas palavras uma ambiência de todas as partes, sem que necessite cruzar o planeta. Você, ativista dso desejos submersos e indizíveis. Morador de uma cidade que co-existe com o emaranhado das cartografias oficiais que ganham manchetes de jornais. Como o pinguim ameaçando a estabelecida Gottom City. Você traça um chegar, uma força de entrar em lugar de resistência de nós, ainda sem nome, nem gramática. Batman seria o ativista? não creio. prefiro a irreverência dos que borram a imagem: "why so serious?". Eu diria para os que se definiram de modo rígido e trágico, para os que não rasuram, não prevaricam, não têm cheiro de porraloca. Acrescentaria: why so sober? por isso vc. é sim facho de esperança em fogo trêmulo, lusco-fusco de um final de tarde longínquo, inteiramente cindido, como nós, como todos nós. Por essa lucidez de fina percepção, alivanhada em palavras de aço, de fogo-vivo é que eu sei que você é um mar que resiste. Nós navegantes.
Quando li teu comentátio no "comme la vague" pensei: esse homem segue meus passos. "sorria vc. está sendo sentida". Isso é uma ativismo de corpo, profundo como a percepção da pele. Tuas palavras me mobilizam mais escrita, mais nomadismos. grata. bjs
Fiquei surpresa pelas considerações comentadas. Ainda não tinha deparado-me com uma exposição tão minuciosa sobre meu pensar, sobre meu quase penar. Meu último escrito, assim foi, são as mesmas palavras, mas para lentes e olhares diferentes. Interpretações que cabe a cada um conhecer e levar para si. É sabão, escorregadio. Chega até ser expresso e lídimo, só pra quem sabe ver. Sua sensibilidade é gritante, mas de um mundo real. Seu texto impressiona pelo passeio em típicos momentos, históricos e seus historiadores, fazendo referencia a si. Personalidade forte, simulando um mundo real: o SEU mundo real. Você é muitos e vários, ainda sendo um só. Anseia por ser linear, mas a impossibilidade de sê-lo, impera. São muitos sendo você e você, “são todos”. Sua busca pelo encontro de si mesmo é válida, ainda que jamais consiga concretizar, por inteiro, o preceito Socrático “conhece-te a ti mesmo”. Um beijo!
oi, Eduardo!
Dá para notar que voc~e é bem filosófico e gosta de refletir. Seu estilo também é marcante; é diferente, único.
O jeito com que voc~e usa 9e talvez abuse) das repetições sem deixar nada muito repetido, é incrível e difícil de imitar - se é que é possível imitar o seu estilo. Acho que não.
Gostei de como você escreveu os poemas, as rimas se repetindo numa mesma ordem: coisa rara de se ver hoje em dia.
E o tema também é ótimo, como o de todos os textos seus que li. Faz sentir, faz pensar, faz refletir.
E, já disse Carl Young: 'Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta."
Você faz despertar.
Beijos da Lu Paes!
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