sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Hoje é um dia bom pra comer Fandangos assistindo a Sessão da Tarde.

(a)
(b)
Hoje é um dia bom pra comer Fandangos assistindo a Sessão da Tarde. Mas como não ando mais suportando filmes ao estilo Sessão da Tarde há um bom tempo, fico apenas com o Fandangos.

Mas tem Fandangos em casa? Vou procurar e não acho.

E ainda por cima tenho preguiça de andar até a padaria a meia-quadra daqui.

Logo, o que fazer?

Eis o meu dilema nesta sexta-feira, dia dois de janeiro do ano de 2009, de férias neste apartamento.

Concordo que não seja um dilema digno de leitura. E se formos pensar bem, poucos dilemas são dignos de leitura. Acho que os mais profundos ficam nos dilemas fictícios ao invés de nos reais, isto porque tudo que é ficção nos toca mais do que a realidade. Acho que é mais fácil acreditar na realidade da ficção do que na realidade do real e não consigo entender como tem gente que prefere uma biografia a um romance. Tudo que é inventado me soa mais real do que tudo que realmente aconteceu. As razões disso devem reportar às origens do que eu sou.

Mas entre descobrir tais razões e continuar a falar do Fandangos e da Sessão da Tarde, fico com a segunda opção.

Porém, onde chegarei de tal modo? Eis outro dilema do qual prefiro nem enfileirar frases pelo simples fato de que tal tarefa seria mais do que inútil: seria imprestável.

Aliás, alguém já parou pra pensar que existe uma grande diferença entre “ser inútil” e “ser imprestável”?

Pelo menos pra mim existe, isto tanto na classificação humana quanto na classificação textual, como restará claro ao final deste, começando pela classificação humana que a seguir se dará.

Pois bem.
O “ser inútil” é aquele que nunca prestou pra nada. Nasceu com o rabo virado pra lua mas não soube aproveitar o luar. Quando existe alguma mulher olhando pra ele, o dito simplesmente não percebe pelo fato de ser inútil. Aos oito anos sabia ler P-A-L-A-V-R-A de trás pra frente mas desaprendeu isso a partir do momento em que ganhou seu Super Nintendo e ficou viciado em Mario Word.

Esse é o “ser inútil”.

Já o “ser imprestável” é diferente. Se o “ser inútil” nunca prestou pra nada, o “ser imprestável” já prestou pra alguma coisa mas hoje não presta mais. Ele é mais ou menos como o salário do sujeito logo quando este sujeito arranja um emprego bom. De primeira, o salário dá e sobra no final do mês. Mas pouco tempo depois sobra mês no final do salário e é aí que começam os problemas.

O “ser imprestável” normalmente abrange grande parte da população, em que pese nos dias atuais o “ser inútil” também ocupar um lugar de destaque, o que ocorre muito por conta do fato de que todas as casas tem antenas parabólicas e afins.

Pode ocorrer que um “ser inútil” se transforme em um “ser imprestável”, o que já corresponderia a uma evolução em sua graduação no mundo, muito embora um “ser imprestável”, pelo mero fato de “já ter prestado para alguma coisa”, jamais poder vir-a-ser um “ser inútil”.

Moralizando a coisa, podemos facilmente chegar a conclusão de que mais vale ser um “ser inútil” do que um “ser imprestável”.

E por quê?

As respostas são simples, e mesmo que tais não restem esgotadas por este meu curto e grosso arrazoado, vamos a algumas.

Primeiramente, porque é decepcionante prestar para alguma coisa algum dia e depois não prestar mais pra nada. Que o digam os psicanalistas e psiquiatras que receitam anti-depressivos aos quilos para milhares de cidadãos de bem deste planeta afora. Camarada que um dia estava numa posição e por algumas burradas que fez na vida de repente cai não pode ser feliz jamé. É possível que em algumas dúzias de anos consiga suportar a sua condição. Porém o fato é que este "suportar" será mero suporte para a sua imprestabilidade, de modo que esta, como uma cruz que tenha se pregado às costas do “ser imprestável”, jamais o abandonará. É algo como o que ocorre depois que o sujeito se casa – ou seja: nunca mais voltará a ser solteiro, o que até mesmo diz do fato da sua imprestabilidade para a solteirice.

Secundariamente, várias outras respostas poderiam ser obtidas por mera derivação das já expostas. Contudo, acredito que as observações apontadas dão conta do objetivo desta salutar reflexão sobre as diferenças entre o “ser inútil” e o “ser imprestável”, lembrando sempre que se pudéssemos acaso escolher entre nascer predestinados a inutilidade ou a imprestabilidade, certamente ficaríamos com a primeira hipótese pelo simples fato de a partir de então não termos de nos preocupar com mais nada – afinal, somos inúteis e ponto final.

Trazendo tais traços reflexivos para o campo semântico deste tenra reflexão sextutina (acabei de inventar esse neologismo, paciência), concluo que a mesma não se enquadra tanto na categoria da inutilidade quanto na categoria da imprestabilidade do ponto de vista textual, uma vez que o ponto de vista humano já foi desfraldado.

E por quê?

Perscrutemos tal realidade.

Fato é que eu poderia estar trabalhando. Mas fato é que eu não posso trabalhar dia dois de janeiro, uma vez que neste ano de 2009 tal dia caiu em uma sexta-feira, a qual, por óbvio, encontra-se entre o dia primeiro de janeiro e o dia três de janeiro, de modo que a mesma é considerada feriado por mero decreto de mim-pra-mim avalizado pelo superego freudiano comigo por não ter estudado em uma escola construtivista.

Fato também é que tal reflexão sextutina até que tem algum fundamento. Caso não o tivesse, não falaria de Fandangos e de Sessão da Tarde, parâmetros essenciais a qualquer pessoa em sã consciência que, como eu, tenha vinte e poucos anos.

Portanto, não sendo minha sexta-feira inútil e muito menos imprestável, já que rendeu estas palavras que por ora despontam sob o risco de derivarem em mais e mais palavras nas horas que se seguirão, concluo que já que tenho preguiça de andar até a padaria que fica a meia-quadra daqui pra comprar Fandangos e não tenho paciência para assistir a Sessão da Tarde, melhor mesmo ficar no computador escutando alguns sucessos dos anos oitenta.

Mas pra isso eu tenho paciência?

Ritchie, Menudos, RPM e Polegar – só pra ficar nos nacionais?

Não, infelizmente não: meu saco não é tão capacitado assim.

Por conta disso, aborto este pensar por cá, fazendo votos de que a próxima postagem em tal espaço supra o vazio trazido pelas palavras que agora por alguém são lidas – isto no caso de alguém ter tido paciência para chegar até aqui.

E quanto às fotos deste tratado, as mesmas hoje não constituem um post scriptum, mas sim estão no corpo do texto:

(a) Já que se falou em Sessão da Tarde, As Minas do Rei Salomão protagonizado pelo Richard Chamberlain e pela Sharon Stone em início de carreira é o meu favorito, muito embora admire muito o Crocodilo Dandi (é assim que se escreve?).

(b) E quanto ao Fandangos, o de presunto é o melhor.
Não tem erro.

2 comentários:

Anônimo disse...

sobejou paciência nesta tarde de sexta-feira, dois de janeiro do quem sabe faustoso ano de 2009. fazia um calor de matar por aqui; agora chove - mais o ventilador - a sensação é de tempo ameno. de fato, através da grade da janela, o pedaço de céu escuro que diviso apazigua um tanto a minha língua, que disparava há pouco 'que saco! que ódio!', o que obviamente recebia algumas recriminações em resposta, tímidas, já que todo mundo sabe que eu tenho alguns parafusos a menos. sobejou paciência, li o seu texto sem acompanhamento musical (sabe-se lá porquê a merda da caixa de som do computador não quer servir para caixa, uma imprestável, como diria você). não tenho nada a dizer, apesar do comentário por demais extenso, e nem muito você, apesar do longo texto para o qual sobejou a minha paciência. deixo um chiste: o imprestável dos imprestáveis - aquele que decepcionou quem já não esperava nada dele. prazer, senhorito!

p.s.: a chuva está passando, um cigarro daqui a pouco... o que você está fazendo agora?

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

agora leio seu comentário esperando que minha imprestabilidade passe com alguns filmes que estou baixando e com o café que me arde no estômago. estranho é que esperar algo nunca se espera, ainda que haja alguma esperança para a manhã de amanhã. mas a chuva por aqui recém irá começar e eu irei me deitar na frente da televisão pra trocar de canais sem porquê e me perguntar porque ando escrevendo coisas tão sem fundamento mas com alguma compreensão. e o prazer é nosso, tenhas ciência.