quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Só não esquece das exclamações...

Não era forte como o domo geodésico.
Nem pretendia tanto.
Entre escorrer dentre braços e permanecer com a sua estrutura, havia motivos suficientes para que sua liquidez falasse mais alto.
Porém como haverá volume se não há nenhuma resposta de quem ouve?
Seria pura questão de senso, de tato ou coisa que o valha. Logo, não tinha tanta certeza assim, pois caso carregasse consigo alguma certeza teria que ver alguma reação daqueles que ouvem a voz da sua liquidez.
Ou será que sua liquidez era desprovida de voz?
Provida de gaitas talvez, hein hein?!
Não, melhor não.
Melhor que encontrasse sem demora uma negação pra barrar o fluxo que se fazia. Melhor rejeitar uma idéia mal investida que prosseguir no depósito fino e conseqüente de tudo quanto lhe passasse pela cabeça.
Portanto, avante com as ciganices!
Avante com as rodas, com as violas, com as saias!
Se houver uma órbita verde, verde, vermelha, azul e amarela vestindo aquela morena linda e gostosa, as coisas estarão certas assim como tudo sempre esteve certo na cabeça de Newton – mesmo que Newton, há de se admitir, não desconfiasse que o tempo fosse o que Einsten disse que era.
Mas todos devem ser perdoados por ilusões de eternidade.
Todos devem ser perdoados pelo simples éter, seja ingerido ou inalado, vez que é nele que se movem os astros.
Convém não condenar quem dizia o que dizia tão-somente para provar aquilo no que acreditava, ainda que essa prova tenha a ver com israelenses na Faixa de Gaza ou atenuantes do gênero.
Invadir, afinal, qualquer um invade quando deflagra um xaveco no ouvido daquela moça do canto:
- Você é linda, sabia?
- (Ela não responde e apenas ri. Mas quem disse que risos não são respostas?)
Tudo acaba em um motelzinho com nome de deusa grega.
O estranho é que Vênus pode ser Hades nessas alturas do campeonato, sendo que do contrário faria alguma diferença se atirar do vigésimo andar.
Mas amigo: há vigésimo andar nessa cidade? Há andar para o que você sente? Seu peito está dividido em patamares, em lugares, em altares?
Você tem que reconhecer que algum dia esteve e que mesmo hoje está em algum lugar. E por mais que você queira essa coisa de escorrer, por mais que você queira essa coisa de estar em todos os lugares sem estar em lugar algum, não é bem assim pra jogar no liquidificador o pouco que resta do seu coração. Com o que existe aí, por certo sairia uma batida com cor de beterraba.
E a pergunta está AQUI: quem tomaria?
Mesmo que você já tenha visto línguas lambuzadas de esperma e até de coisa bem mais densa naquelas porcarias que os amigos te enviaram na internet, você não vive em um mundo à parte dessa forma. Você vive em um mundo no qual os vizinhos são pessoas boas e trabalhadoras enquanto você dorme até uma tarde e levanta com a barba por fazer e o cabelo por cortar. Você levanta para ser desmatado, mas só o que desmata é sua utilidade em frente à televisão.
Se salvam só os clipes do Gogol Bordello que dizem muito mais de você do que você pensa.
Quando chegar a noite, portanto, quem sabe seja hora de você ligar pra alguém e parar com essas neuras. Sim: liga pra alguém, vai ao cinema, toma umas duas polares e deu, porque você há de concordar que nem sempre uma caixa é que alivia a consciência de algo.
Se você voltasse pra história de uma caixa, cairia novamente nessa de querer ser forte e ter fígado duplo.
E você tem que aceitar que só existe um fígado no seu horizonte de eventos, já que ainda não inventaram um mercado negro suficientemente acessível ao que você traz nos bolsos.
E falando nisso, corre: não atende o telefone, desliga o interfone, põe algodão nos ouvidos e diabo à quatro. Se puder enfiar a cara dentro da almofada e não tira mais ela dali.
- É ele! – falam elas por aí.
- É ele! – falam eles por aí.
E tudo se dilui e você está sabendo disso.
Essa sopa que resta não tem nada a ver com beterraba e muito menos com tomates.
Essa sopa que resta tem até um tom azulado se seus olhos forem bons observadores.
Essa sopa que resta é você e cabe a você tornar tal sopa o mais energética possível nem que tenha que jogar Red Bull na dita.
Cabe a você, camarada!
Alto lá!
Esqueça essa onda de querer entender o que está acontecendo. Se a wibe não vai até você, não quer dizer que você precisa ir até a wibe. Não adianta fazer escolhas se tudo isso é só idealização e nada mais, porque você sempre será você quer você queira ou não.
Desta maneira, ergue essa tenda de uma vez. Põe as varetas voltadas para a Estrela Polar e acende o fogo depressa porque está frio.
Não precisa lembrar do amigo solteirão que é o autor do hein hein.
Não precisa lembrar de nada se os Anassassi já disseram o que haveria sob o sol.
Antes disso, contudo, lê o Eclesiastes e me diz se não é verdade:
- Tudo vaidade jogada ao vento!
Você tem que admitir que definitivamente jamais será um domo geodésico e tampouco liquefazerá suas certezas.
Seu coração está em outro canal.
Se ele está fora do ar é porque você está dentro dele.
O contentamento que tudo isso traz é tremendo – basta você sentir.
Mas eu sei: te quebraram no meio, te cortaram os dedos, te amputaram os braços e você é apenas um coto, mesmo que isso tenha a ver com aquela música da Legião.
É difícil então e blá blá blá. Ainda mais quando faz sol e é sete da noite de janeiro.
- Tempo de esperança. – dirá a porra do psicólogo.
Ao escambal com as esperanças porque você lembra:
- A esperança é uma espera que cansa e dança ao redor de sua própria trança!
Por isso avante, avante.
Só não esquece das exclamações...
(P.S.1: Na imagem, Newton. E não sabe de quem é a tela: só sabe que é pra ser o Newton. Em Santo Ângelo não existem prédios de vinte andares. Quanto ao amigo, é o Ranieri. Do motelzinho pouco se sabe porque nem se sabe onde fica e é hora de ir tomar banho porque faz calor e nada mais.)
(P.S.2: “Folk you”, diz o final do clipe da Mallu Magalhães. Acha que é essa a intenção de tudo quanto anda falando. E pedir mais que intenção seria demais.)

Nenhum comentário: