segunda-feira, 15 de junho de 2009

Exercício n° 104.

A vida é feita de embrulhos. Mas o amor não pede às pazes. Por isso as margaridas sofrem pelas janelas e ninguém escuta suas pétalas. Se escutassem, talvez nossos passos seriam sempre outonais e todas as dores passassem como passa o vento às quatro horas da tarde. Não interessaria se haveria um sax dando voz às paixões. Interessaria apenas cada presente de pele que as cortinas do terceiro andar presenciaram. Sobre tudo cairia a paz: quieta, encerraria versos de lábios em cada fresta de beijo.
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A voz do domingo é felina. Agarra o edredon com unhas de quero-mais. Não deixa o sol ser mais que suco. E o ar é um meio-dia de lençol não lavado pela lembrança. Falta-nos ir além da espera para que a saudade não seja somente um copo de luz. Sem isso continuaremos cegos: mariposas em torno da lâmpada, náufragos do coração, ecos do que não fomos. E permaneceremos lacrados na ânsia do vôo.
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A liberdade só existe quando a imaginação é solta. Do contrário, as grades permanecem fechadas tanto para a pele quanto para a terra – e as notas são apenas fragrâncias que não seremos capazes de sentir. Se existe um ponto final a ser tomado, ele precisa ser também um início. Longe disso, as gotas que caem na preguiça das horas jamais trarão vida. E existirão apenas esses pássaros que de propósito quebraram as próprias asas por puro medo.

Um comentário:

pensar disse...

Fantastico, tua sensibilidade corta os ares e ruge junto ao vento.
Que os pontos finais tragam inicios, pois xicaras cheias estao cheias.
Bjs