domingo, 21 de junho de 2009

Ensaio Curto n° 1: Do Medo.

O medo é a raiz dos nossos atos.

Seja quando procuramos um emprego ou escolhemos um curso superior para dar um rumo para nossa vida, estamos, quer queiramos quer não, fazendo isso por medo.

Ainda que alguns digam que se trata de uma opção, de um dentre vários caminhos que poderiam ser escolhidos, é o temor que move cada uma das nossas atitudes, sendo que foi esse mesmo temor que fez com que nossos antepassados, em tempos longínquos, inventassem uma religião e mesmo uma organização social para conter os arroubos relacionados ao próprio comportamento humano.

Se cremos em alguma coisa sobrenatural, o fazemos tão-somente para explicar o mundo natural que nos rodeia.

Se aplicamos normas e mais normas por sobre condutas e mais condutas, igualmente o fazemos baseados na crença de que o modo como estamos agindo é o melhor possível, já que determinada estrutura da sociedade assim determinou.

Porém, raras vezes paramos para pensar nas engrenagens complexas que existem por detrás dessas atitudes – e mesmo quando reconhecemos que o medo é a força que move nossos atos, o temor novamente se instala, aqui transfigurado em medo da própria descoberta dos motivos do temor.

Fato é que poderia ser feita uma autópsia psicanalítica ou filosófica das estruturas mentais relacionadas às estruturas culturais que nos subsumem.

Contudo, mesmo essa autópsia estaria impregnada por uma mesma força que as faz submeter o próprio medo ao escúrtineo – e essa força novamente seria o medo.

Logo, como resolver esse impasse?

Se até mesmo os equipamentos que construímos com o correr dos séculos, sejam materiais ou mentais, estão alicerçados no temor, existe alguma saída para além dele?

Acredito que não.

Acredito que o medo é a demonstração dos nossos atributos mais primitivos, os quais encontram respaldo no sexo e na fome, pois se o sexo é a ânsia da reprodução, a fome é a ânsia de não ter alimentos para sustentar o corpo.

Ainda que hoje o sexo seja vendido mais como pacote de consumo de uma sociedade que vive do consumo, o ato sexual em si, tanto simbólica quanto realmente, resta imantado da própria necessidade de reproduzir mesmo que essa reprodução na grande parte das vezes não se dê.

E com relação à fome, a qual nos dias atuais é fonte de progresso para muitas empresas nefastas que mais nos incutem a gula do que a fome, ocorre o mesmo, já que a própria gula é um atributo temeroso que o sujeito sustenta pela intermitente insatisfação com a quantidade de alimento que ingere.

Assim, movidos pelo medo, tendo ele como reflexo dos nossos instintos mais primitivos que encontram aporte fático no sexo e na fome, somos seres que jamais irão encontrar uma explicação satisfatória para a própria razão do temor.

Pode a ciência perscrutar o espaço sideral, podem nossos neurocientistas dizer que tudo quanto sentimos não passa de um apanhado de substâncias que ao acaso dos acontecimentos nos povoa o cérebro, podem até mesmo inventar teoremas filosóficos e psicanalíticos que digam de cada mínimo movimento humano: nada adiantará.

No fim, todas as nossas criações, todas as nossas invenções, todas as coisas das quais nos orgulhamos por termos feito enquanto indivíduos e enquanto civilização, sempre estarão alicerçadas em um único sentimento, em uma única sensação, em uma única realidade: o medo, essa mão fria que pousa em meu ombro esquerdo nesse exato instante.

Um comentário:

pensar disse...

Edu,
Um dos grandes propulsores eh o medo, mas tem o amor o prazer e tantas outras coisas obscuras por tras de cada acao.Nao achas?
Um grande beijo: sem medo e com carinho