segunda-feira, 22 de junho de 2009

Assoalhos.

um giro de naufrágio previsto habita minhas entranhas
e não há vírus ou vacina que faça o passo cessar
e que faça a mão largar o volante
e a estrada deixar de existir repentinamente
apagando o rastro de quem por ali andava
e por ali dormiu
e por ali tinha olhos masturbatórios
que ardiam na volúpia das chibatas
que sempre estiveram amarradas ao gozo
ao gozo trépido e indecente desses jogos de azar
e desses domingos inúteis que transitam pelas fachadas dos calendários
e dos relógios
e grudam o compromisso na face de quem vivia
de quem sabia mergulhar
e sabia respirar embaixo d'água
mas que agora esqueceu e preferiu sentar quieto
e esperar que o céu desabe
para que todo clichê frasal que desde sempre
entrecorta o pulso de quem julga saber de alguma coisa
tenha razão de ser algo além de um substantivo e um verbo
que percorre qual latido melancólico e prisioneiro
a órbita da madrugada
que meu sangue não presencia e que minha saliva não toca
pois estou só
só como nunca estive antes
com as mãos e os pés úmidos
sabendo que nada posso contra o que sei
e o que não admito
para continuar a viver
a querer buscar
a querer desenterrar o segredo
que me move e que pode estar
bem em cima de mim nesse exato instante que desperdiço
no intuito descabido da conotação que me toma
e que me faz ser aqui
aqui e só aqui
como uma náusea ferrenha
que se tem em uma ressaca de negações
contra hélices e asas e chaminés
que fulminam as paredes do peito
com suas voltas
e suas vidas
expelidas
e tossidas e cuspidas
no mármore de todo altar

Um comentário:

pensar disse...

Oi Edu,

Fica ai a sugestao de um livro: A ciencia e o campo akashico - de Ervin Lasklo. Para quem reconhece sua pequenez e sabe da conectividade de tudo. Uma otima semana.bjs