Os computadores e os celulares nos roubaram muito da pouca humanidade que tínhamos. Culpa de duas expressões hoje cotidianas: atalhos e torpedos. Se com os computadores ficamos viciados em atalhos, com os celulares ficamos viciados em torpedos. O estranho é que ambas as palavras remetem a uma noção de guerra. Se os atalhos estão para o fato de querermos chegar mais rápido ao inimigo, os torpedos estão para o fato de querermos arrasar o inimigo de uma distância segura. Não é à toa que muita gente acaba namoros via torpedos.
Mas além de nos remeter a uma noção de guerra, os atalhos e os torpedos dizem muito desse imediatismo da atualidade. Perceber isso é fácil quando certas mulheres, ao invés de freqüentar academias ou sofrer com dietas, preferem fazer lipoaspiração. E se quisermos aplicar a mesma lógica aos homens, basta ver o crescente uso de anabolizantes. Logo, tanto um quanto outro fato remete tanto a atalhos quanto a torpedos, porque se por um lado a lipoaspiração e os anabolizantes consistem em atalhos para a beleza, por outro lado consistem em torpedos para a saúde.
Contudo, o mais interessante é que também buscamos atalhos e torpedos nas relações sociais que visam quaisquer conquistas. Uma boa ilustração disso está para o adolescente que ao invés de ler uma obra indicada pelo professor de Literatura, busca o resumo dessa obra na internet. E outro quadro diretamente ligado a isso está para o grande número de “trainees” que existem nas grandes empresas, os quais, em sua maioria jovens no início da carreira, crêem que se em três anos não ocuparem altos cargos empresariais, serão fracassados pelo resto da vida.
A razão desses imediatismos talvez tenha a ver com a expressão latina “carpe diem”. “Carpe diem” quer dizer “viva o dia”, “viva o agora”, “viva o momento” – ou seja: se o ontem já se viu e o amanhã não se vê, importa apenas o hoje. Neste sentido, essa é lógica que move essas pessoas que buscam a beleza ou o sucesso de maneira tão imediatista e desconsideram o processo que precede toda conquista. Porém, muito além da busca pela beleza ou pelo sucesso, a lógica do “carpe diem” faz com que os jovens, por exemplo, falem frases tão imbecis quanto “curta a vida porque a vida é curta” – a qual ilustra muita coisa da qual nem é necessário falar.
Entretanto, o que se esquece ou não se sabe é que a expressão “carpe diem” nasceu em um Império Romano já decadente, entre os séculos III e IV d.C. Também se esquece que se você não liga para o amanhã, é porque você não liga para o ontem e apenas se ilude com o hoje. Resumindo: você não tem a sua própria história. Deixando de ter sua própria história, as portas para o imediatismo estão abertas, fazendo com que você não tenha consciência do processo no qual está inserido justamente por querer atalhos para seus objetivos ao passo que lança torpedos em qualquer obstáculo que signifique um freio para sua intenção de “viver o momento”.
Portanto, longe do fato de ter propiciado a ilusão da aproximação, computadores e celulares propiciaram sim o roubo da pouca humanidade que tínhamos. Claro que existem aspectos positivos, mas a realidade é que esses aspectos são travestidos pela lógica do “carpe diem” – a qual, e disso falarei em outro momento, está ligada com o “ficar” das casas noturnas e com os cartões de crédito que nos estrangulam mês a mês. Nesse ponto é que entra a humanidade – ou melhor: a pouca humanidade que tínhamos –, porque humanidade é ligar para um amigo e falar com seu pai ou seu filho antes dele atender, assim como é sentar para escrever uma carta para uma pessoa que mora longe, ao invés de enviar aquelas irritantes correntes de e-mail ou mesmo crer na farsa que é lembrar do aniversário de alguém por conta do Orkut.
Por isso é que muito antes de nos propiciar qualquer aproximação, celulares e computadores, jogando expressões como atalhos e torpedos no cotidiano, fizeram com que nos tornássemos mais e mais distantes. Ao invés de relacionamentos passamos a ter conexões que podem ser desligadas a qualquer momento. O perigo é que aquilo que torna mais fácil uma parte, torna todo o resto mais difícil, já que o melhor atalho para os torpedos é explodir sem sair do lugar.
Mas além de nos remeter a uma noção de guerra, os atalhos e os torpedos dizem muito desse imediatismo da atualidade. Perceber isso é fácil quando certas mulheres, ao invés de freqüentar academias ou sofrer com dietas, preferem fazer lipoaspiração. E se quisermos aplicar a mesma lógica aos homens, basta ver o crescente uso de anabolizantes. Logo, tanto um quanto outro fato remete tanto a atalhos quanto a torpedos, porque se por um lado a lipoaspiração e os anabolizantes consistem em atalhos para a beleza, por outro lado consistem em torpedos para a saúde.
Contudo, o mais interessante é que também buscamos atalhos e torpedos nas relações sociais que visam quaisquer conquistas. Uma boa ilustração disso está para o adolescente que ao invés de ler uma obra indicada pelo professor de Literatura, busca o resumo dessa obra na internet. E outro quadro diretamente ligado a isso está para o grande número de “trainees” que existem nas grandes empresas, os quais, em sua maioria jovens no início da carreira, crêem que se em três anos não ocuparem altos cargos empresariais, serão fracassados pelo resto da vida.
A razão desses imediatismos talvez tenha a ver com a expressão latina “carpe diem”. “Carpe diem” quer dizer “viva o dia”, “viva o agora”, “viva o momento” – ou seja: se o ontem já se viu e o amanhã não se vê, importa apenas o hoje. Neste sentido, essa é lógica que move essas pessoas que buscam a beleza ou o sucesso de maneira tão imediatista e desconsideram o processo que precede toda conquista. Porém, muito além da busca pela beleza ou pelo sucesso, a lógica do “carpe diem” faz com que os jovens, por exemplo, falem frases tão imbecis quanto “curta a vida porque a vida é curta” – a qual ilustra muita coisa da qual nem é necessário falar.
Entretanto, o que se esquece ou não se sabe é que a expressão “carpe diem” nasceu em um Império Romano já decadente, entre os séculos III e IV d.C. Também se esquece que se você não liga para o amanhã, é porque você não liga para o ontem e apenas se ilude com o hoje. Resumindo: você não tem a sua própria história. Deixando de ter sua própria história, as portas para o imediatismo estão abertas, fazendo com que você não tenha consciência do processo no qual está inserido justamente por querer atalhos para seus objetivos ao passo que lança torpedos em qualquer obstáculo que signifique um freio para sua intenção de “viver o momento”.
Portanto, longe do fato de ter propiciado a ilusão da aproximação, computadores e celulares propiciaram sim o roubo da pouca humanidade que tínhamos. Claro que existem aspectos positivos, mas a realidade é que esses aspectos são travestidos pela lógica do “carpe diem” – a qual, e disso falarei em outro momento, está ligada com o “ficar” das casas noturnas e com os cartões de crédito que nos estrangulam mês a mês. Nesse ponto é que entra a humanidade – ou melhor: a pouca humanidade que tínhamos –, porque humanidade é ligar para um amigo e falar com seu pai ou seu filho antes dele atender, assim como é sentar para escrever uma carta para uma pessoa que mora longe, ao invés de enviar aquelas irritantes correntes de e-mail ou mesmo crer na farsa que é lembrar do aniversário de alguém por conta do Orkut.
Por isso é que muito antes de nos propiciar qualquer aproximação, celulares e computadores, jogando expressões como atalhos e torpedos no cotidiano, fizeram com que nos tornássemos mais e mais distantes. Ao invés de relacionamentos passamos a ter conexões que podem ser desligadas a qualquer momento. O perigo é que aquilo que torna mais fácil uma parte, torna todo o resto mais difícil, já que o melhor atalho para os torpedos é explodir sem sair do lugar.