terça-feira, 7 de julho de 2009

O João-de-barro das Terças.

Santo Ângelo fica na região noroeste do estado. É longe de Porto Alegre. Se não me engano uns quinhentos quilômetros. Mas isso não impede Santo Ângelo de ter sua região metropolitana. Ou cidades satélites, como dizem.

Entre-Ijuís, por exemplo, é uma cidade satélite de Santo Ângelo. Trata-se de um daqueles municípios que surgiram às margens de uma rodovia. Caso seus moradores queiram algo que não possa ser encontrado nas prateleiras do comércio local, tem que embarcar em um ônibus da GMS e zarpar pra Santo Ângelo.

Também é uma dessas cidadezinhas nas quais duas famílias se revezam na prefeitura. E quando não é uma das famílias, é algum laranja que representa elas. Esses tempos até ouvi falar que esses caudilhos enriqueceram nos anos 80 com o tal do adubo papel. Nunca entendi do que se trata esse adubo papel, mas pelo mero fato de haver papel no meio da coisa dá pra deduzir que é sacanagem.

Mas sacanagem por sacanagem, não é disso que quero falar. Me interessa falar da Cruz Missioneira que fica no trevo que dá acesso à Entre-Ijuís. Imponente e branca, serve, até onde sei, pra informar os passantes que por aqui houveram as Reduções Jesuíticas.

Somente falar acerca dessas Reduções, faria com que minhas linhas se estendessem ao infinito. E como ontem reconheci que esses lances de infinito só podem ser alcançados pelo Buzz Lightyear, não falarei nem dos caudilhos de Entre-Ijuís e muito menos das Reduções.

Por outro lado, falarei de um joão-de-barro que fez sua casa em um dos braços da cruz, coisa que reparei hoje cedo quando voltava de Ijuí, uns cinquenta quilômetros daqui, abaixo de umas pancadas de chuva que certamente farão com que o inverno volte por esses campos.

Esse joão-de-barro não conhece nada da cultura missioneira. Muito menos sabe das maracutaias que perpassam as prefeituras da região. Apenas construiu sua casa em um dos braços da cruz pra apreciar o movimento. E apesar de eu não ver graça alguma em assistir carros e caminhões passar de lá pra cá a todo momento, vai saber o que se passa na cabeça do joão-de-barro.

Sempre me disseram, aliás, que a gente deve respeitar o joão-de-barro. São passarinhos que constroem sua própria casa com pedaços de graveto e barro que acham por aí. Assim, judiar de um joão-de-barro é demonstração clara de falta de caráter.

Contudo, o que me intriga é que as pessoas acham normal o cidadão se matar de trabalhar pra comprar algumas quinquilharias no decorrer da vida, ao passo que acham uma crueldade tremenda alguém desmanchar a casa do joão-de-barro com um cabo de vassoura.

Não que eu esteja defendendo essa gurizada que mata passarinho de bodoque. Acho sinceramente que são umas pestinhas que merecem uma tunda de laço.

Mas se os bancos tomam terras e mais terras dos agricultores, se os supermercados obrigam seus funcionários a entrar no tal do banco de horas pra não ter que pagar horas-extras aos caras, se duas famílias se revezam na prefeitura de Entre-Ijuís ao deus-dará e aplicam o dinheiro público sei lá eu onde, existe algo estranho nessa história toda.

Porém, tenho de admitir que essa estranheza acaba no exato momento que lembro de uns temas que estão me deixando mais louco que de costume: economia, política e sistema.

Mas que nada. Sete palmos pra eles nessa terça.

Hoje ficarei tranquilo construindo meus dizeres que nem o joão-de-barro constrói sua casa.

Por isso é que o joão-de-barro agora é meu bichinho das terças.

Sim, porque é a terça-feira que faz com que a semana inicie, porque somente nela você se conforma um pouco com feira que acompanha todos os dias do calendário. Coisa de mascate recalcado, óbvio.

Ainda assim, hoje minha vontade é me entocar aqui na biblioteca e não botar as fuças pra fora. Me dá medo um sonho bobo que tive: sou atropelado por um caminhão de porcos. Para minha segurança, ficarei com meus livros. Distante de caminhões e porcos, estarei seguro. Mas mais tranquilo ficaria se os gatos deixassem de frescuras e dessem cabo em todos os pinchers do mundo. Dessa forma os latidos dessas criaturas desprezíveis não me fariam escrever um texto tão ruim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não discordo nem um pouco do teor do teu 'post', porém, para iluminar a tua inteligência crítica, a chamada cidade "SATÉLITE" de Santo Ângelo, ou seja, Entre-Ijuís. Informo que ela não surgiu as margens de uma rodovia e sim, a rodovia passou pela rua principal, com o propósito de utilizar a ponte existente, até que uma nova fosse construída o que não ocorreu até hoje e nem sei se vai ser construída. Nem sei pq eu estou tecendo esse comentário, pq o blog está quebrado mesmo.

Eduardo Matzembacher Frizzo disse...

O blog foi desativado, Anônimo. Restaram os textos como espécies de móveis velhos, dos quais vez em quando venho tirar o pó. Quanto às suas informações, obrigado - mas o texto foi bem descompromissado mesmo. Abraços.