segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Gato das Segundas.

Segunda-feira é um dia prático. Ao menos acredito que seja.

Se aqui em Santo Ângelo ainda posso ouvir os cantos de sei lá eu quantos passarinhos, talvez isso seja o que chamam de bênção.

Longe de mim estar em um daqueles prédios cinzas de Porto Alegre, encaixotado pelo tráfego e pela paisagem interminável de paredes ao amanhecer. Claro que não condeno Porto Alegre. Gosto daquele ar sacana e tal. Mas não troco o interior por nada.

É possível que daqui uns tempos eu tenha que sair do interior. Se isso acontecer, garanto que volto.

Melhor é andar tranquilo na rua do que andar se cuidando na rua. Melhor é saber que a Caixa fica dez minutos à pé do que fazer malabarismos no trânsito pra não atrasar as contas. Além disso, melhor é essa tranquilidade para pensar e escrever, mesmo que no mais das vezes ela seja policiada.

Mas esse policiamento, antes de ser um policiamento com fuzil AR-15 ou ferros do tipo, é mais um policiamento moral do que qualquer outra coisa. Uns dirão que isso é pra lá de irritante. E até concordo que seja.

O problema de morar no interior, é que qualquer coisa que saia um pouco da normalidade é vista como sacanagem. Por isso é que o pulo do gato por aqui é fazer muita sacanagem mas aparecer nas colunas sociais da cidade.

Fora isso, aparecer nessas colunas abre mil e uma portas, como me disseram uma vez. Mas eu fico é me perguntando que tipo de portas essas colunas abrem.

Seriam portas de madeira, daqueles mognos centenários que algum desnaturado derrubou para o deleite das lojas de tinta, ou seriam portas de ferro, dessas que o pessoal compra por falta de grana pra fechar a baiuca?

Pra ser sincero, acho que nem uma nem outra. Ao contrário, acredito que essas portas são feitas de papel. Se não fossem, por que as tais colunas estariam nos jornais da cidade? Seria um despautério lógico.

E apesar de eu não gostar de gatos, se o domingo depende de um elefante para existir, a segunda depende dos gatos para existir. Podem falar que os gatos são desconfiados e não confiáveis e et cetera. Mas quem vai duvidar da agilidade desses bichos chatos?

Entre um pincher (leia-se: morcego que late) e um gato (ainda que eu não goste de gatos, coisa que é NECESSÁRIO reiterar), prefiro um gato.

Quem sabe ele ficasse me observando e fosse mais preguiçoso que eu nessas semanas que iniciam. Ouviria meus lamentos materiais com toda paciência e me olharia com aquela cara de descaso, cagando e andando pra mim. Comeria as gatas da vizinhança, viria pra casa pra chiar aquele chiado asmático e dormir e deu pras bolas. Ao invés de um labrador, amigo de fé/irmão camarada, um gato seria meu algoz da empatia e por isso eu gostaria dele.

Mas há de se convir que essa é uma hipótese pra lá de remota. Fico com minhas considerações sobre Santo Ângelo. E espero que nenhum gato féladaputa pule naquela pomba que está passeando pelas gramas do pátio. Se acontecer, juro que dou todos os ratos pra ele.

Assim o malandro aprende a caçar e deixa dessa ladainha de Whiskas e apetrechos de sardinha que vendem por aí. E talvez eu entenda então que esse meu pertencimento ao interior é mais de fora do que de dentro. Não fosse, as lágrimas seriam doces e não salgadas.

Mas esqueci: segunda-feira é um dia prático. Portanto nada de bichices.

Ao trabalho, porque ao infinito e além, só o Buzz Lightyear.

Um comentário:

pensar disse...

Tempo para ler, tempo para pensar, tempo para viver.Sim tempo para viver 'e o que me desespera ver tanta gente nessa cidade sem tempo para viver.E' acho que o interior 'e o tempo da vida.
Bjs