sábado, 18 de abril de 2009

Qual seria seu rumo?, perguntou-se.

A vida nunca teve um rumo.

O único rumo da vida é a morte, aliás.

Afora este, nada mais existe, nada mais persiste a não ser essa nossa insistência em achar rumos.

Fato é que esses pensamentos lhe arremetiam rajadas de desassossego nas paredes do seu crânio.

E o que fazer com eles era sua maior pergunta.

Seria melhor mudar os mares das suas velas ou seria melhor acender as velas nesses mares nos quais se encontrava, de modo que pudesse traçar uma luz diversa nas arestas de cada onda?

Cada pergunta era um alfinete. E cada alfinete estava no seu olho.

Mas por qual razão no seu olho?

Pela simples razão de que seu olho era a porta anarquista do seu coração.

Pela simples razão de que os corredores sempre dizem mais do que as escadas.

E mais ainda, pela razão de que não se pode viver sempre em um labirinto comendo de dia para dormir de noite e nada mais.

Até sabia que muitos viviam essa realidade, mas para ele ela não servia.

E qual realidade servia então?

Talvez um novo nascimento. Talvez um incêndio. Talvez a anulação de si ou a ênfase para tudo aquilo que era. Ou talvez nada disso.

Restava esperar o coração acalmar e a mente arranjar brio suficiente para pensar. Do contrário, nada de espinha ereta e peito hindu. No máximo um litro de vinho e olhe lá.

Por isso abriu a janela e viu um táxi cruzando a madrugada.

Qual seria seu rumo?, perguntou-se.

A resposta foi o barulho do carro passando e o vento que parou de soprar naquele exato instante.

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