domingo, 19 de abril de 2009

Alguém sempre é bobo de alguém.

Não existe nada que me faça crer que eu seja alguém.

A mera afirmação de que tenho um corpo não me satisfaz.

Tampouco me satisfaz a afirmação de que tenho uma alma e uma voz.

E se alguns pensam que ter algumas quinquilharias ou mesmo livros me satisfaz, estão completamente enganados.

Logo, não existe nada nem ninguém que me faça crer que eu seja alguém.

Se o Estado Democrático de Direito me concede algumas regalias, ótimo. Não nasci em berço tão pobre que seja hábil para renegar o que meu sangue e meus pais me trouxeram. A ambos, aliás, sou muito grato.

Se a vida me trouxe alguns amores e algumas oportunidades, ótimo também, uma vez que não sou de dispensar nenhum prazer e muito menos os prazeres que posso vir a conquistar com as coisas que nascem justamente do meu trabalho.

Mas além desses desfrutos, os quais jamais me soaram frutos, sei que a mera afirmação de que sou alguém não me diz nada.

Caso soe para alguém, o que até é uma redundância, fico muito feliz.

Quanto a mim, permaneço nessa insatisfação que não está para o ato de comprar e gozar, que não está para o ato de transar e gozar e que também não está para o ato de pensar, falar, escrever e gozar.

De outra forma, minha insatisfação está para o ato de não crer, de jamais crer e de nunca ter crido que sou alguém, muito embora eu desconfie que realmente seja.

Mas fica a pergunta: eu deveria me levar tão à sério?

Alguém sempre é bobo de alguém.

E Wilson Miranda é um Sócrates para mim, já que desses caras apenas desconfio a existência, pois
não há hierarquia para a sabedoria e muito menos para o acaso.

3 comentários:

gloria disse...

tua passagem pelo meu blog me provoca um outro sentido dos meus escritos. eles ganham movimento, migram, tornám-se independentes e assumem outro corpo. Por isso homem, nunca te vi e provavelmente, pela distäncia geográfica, dificilmente verei. De outro modo, eu sou uma testemunha táctil da existëncia mais que concreta do teu corpo, para além da escrita, dos olhos famintos por letras e dos ritos do prazer e a explosão do gozo. Teu corpo te conduz para um além de vocë e isso faz tu se perder de vista. Não hã lugar fixo e corpo tangível para essa combustão de imaginação e de "vontade de potëncia". Mesmo que algo pareça definhar e fluir no silëncio das noites feito dia. bjs

pensar disse...

Oi Edu,

Que o Eu se dilua, que sobre o ser sendo o antes de tudo e depois do nada.Mas que a visao consiga ver que o caminho nos escolhemos, mas o resultado ah esse nao temos controle. ( e do controle eu quero distancia). Mas esse tom melancolico me leva a crer que talvez esteja procurando a felicidade em algum lugar.Nao ha lugar, nao ha objeto, nao ha caminho..... voce tem tudo e a felicidade plena se ouvir o silencio.
Que meu silencio diga o q nao sei dizer.
Bjs

Beatriz disse...

Descobri vc na Glória; me identifiquei fique "boba" durante um tempo depois do texto.