terça-feira, 7 de abril de 2009

Apólogo para um Acadêmico.

Droga atrai droga. (Metadônica, só a morte.) As pontes estão içadas, o convés nunca houve. Folhas caem, o funil das árvores é um quadro, é um rol de respingos, e os cadáveres do mistério – de um mistério, dos mistérios: não faz diferença – permanecem impossibilitados, borrados, pois serpenteiam novas ofertas de plaquetas pelas vitrines. Calor há – e trepadas na lembrança e nos livros. Mas algo escapa. A leveza é insuportável. No coração continente, no coração inconsciente, pancada na cabeça, sangue pela rua, estagnada, a felicidade, o riso, os abraços dos amigos na lembrança, enquanto ele, que fodia muitas, que sempre quis (nunca foi), ele, esse amontoado de carne linhada pelo cosmo, pela benevolência de qualquer filho da puta, ele, olhar mirrado, estrangulado de dor, deita, não come, quer e já não pode. Nem lago nem trufa. Nem sombra nem estantes. A demissão foi etapa, mas a restrição enfim chega, friccionada pelas mãos do sonho em preto e branco, pelas mãos da puta subornada. A compra! O petróleo! As finanças e o loby de cada barril... – Pra quê reticências? – (Existe. Ponto.) A redenção custa caro, muito, muito caro, e qualquer roubo socializado, sindicalizado, gramaticalmente excepcional, urge por dedos lisos, violáceos, lúgubres tal o que não foi feito e o que não foi escrito. Dor acaba, em minutos acaba, pode estar certo disso. Mas o asco, essa vontade lacrada, essa miscelânea romana, saxã, esses invasores que entram pelo buraco do céu, essa associação poderosa e sem preceitos, tendo somente barba e tecido de algodão, não cessa, não flui ao contrário, não berra impropérios na cara de traficantes bolivianos, mas entra na lua-de-mel, no salão, no quarto climatizado e naquele que é de polietileno, naquela cama nefasta e beata. Há o sono, o cansaço, o despreparo ferindo mais, mais e mais. Cobrem ídolos para obter espaço, e cada pestanejar da maneira entra pela veia, faz cair baba da boca, babando pus, vermes, necroses de uma vida, de uma traça. Nada foi criado, tudo foi suportado com a dignidade das estupradas. Mas talvez tenha sido bolinação de ônibus, mão por baixo da saia, sabe como é, sem esperma, sem feto, sem retardados nascendo. Talvez não devêssemos nos importar, talvez devêssemos exportar, expropriar, reerguer o cascalho daqueles corpos de ontem, de hoje, de estrias. Talvez o nascimento venha das ondas, dos satélites, e não há porque chorar. Encosta a cabeça, acorda do sonho, pega o avião e vai. Deixa o amor nos homens que freqüentaram teu quarto e na filha que não morreu, mas que sempre esteve nas rodas do teu carro. Não renuncia ao levante, aos infantes. Ergue! Ergue a testa, as orelhas qual pastor alemão, anda! Enumera as catástrofes, a bele époquè, os campos de experiências, essa solidão abstrata e sem fim de cada mãe que dá a luz, que dorme no berço e que amamenta. Não há encanto em ser, não há conforto nas dunas da narina, não há balão vermelho que suba e não estoure. Pouco há. Mas senta, come, bebe, discute, ri, ri que a face gosta. Depois, veja, prevalece a burrice desses estudantes sem culpa, desculpados. Esperança? Um cuspe no mar. Lascívia? Ser freira. Essa paixão é que arrefece. Esse ir é que vai. O que perdura são impressões e nada mais. Mas tudo se estende, tudo envolve tudo, e com os queridos passa, passa rápido. Narcótico da ida, narcótico da volta, sempre narcóticos. E um dia, de susto, as veias viram pó e não há crise: só a certeza do imponderável, do putrefato, do apocalipse dos olhos que fecham – e abrem o infinito.

Um comentário:

adri antunes disse...

vc anda a escrever uns textos tão ácidos, o que aconteceuu???
desculpa escrever, não sei se devo respeitar teu silêncio ou não, enfim...
bjusss