Todo poder corrompe. Todo laço é corrupto. Mas a pior democracia é melhor que a melhor ditadura. Se as coisas não são como deveriam ser, é porque o futuro existe, apesar da democracia não se medir por eleições periódicas e sim pelo conflito de interesses no espaço público. Para serem conflitantes esses interesses precisam de voz, a qual não irá partir da classe alta e muito menos da classe baixa, já que toda mudança política que algum dia ocorreu no Brasil partiu da classe média. Mas uma classe média anestesiada pela redução do IPI pra comprar sua TV de plasma ou pelo financiamento do seu Escort 97, não irá fazer nada além de acompanhar interessantíssimos debates futebolísticos. Portanto, não há perspectiva de mudança em médio prazo.
Reclamamos da alta carga tributária e da violência urbana, mas a questão maior é a nossa apatia frente ao que acontece no país. Falar em mesas de bar ou no Orkut pode ser um começo. Assistir ao Casseta & Planeta é rir da própria tragédia, o que é saudável. Mas ficar só nisso é pura falta de atitude, pois de uma ou de outra forma nossas discussões políticas tiram o corpo fora da própria política. Ou seja: a população faz o papel de “boazinha” e os políticos de “malvados”. Mas como disse Gramsci, o pior diagnóstico não pode passar ao largo da possibilidade de ação.
Por essas razões é que não é possível uma mudança de cunho vertical. Todo radicalismo é burro. A classe alta não fará nada e muito menos a classe baixa fará algo. FHC já falou em 1979 que no Brasil nunca houve um proletariado: apenas um operariado, porque até para a CLT existir, por exemplo, o ditador Getúlio Vargas teve que dar propulsão para a organização dos sindicatos. O povo não se articulou sozinho. Aceitou a merreca da CTPS em troca da sua liberdade. Assim, a única mudança possível parte do reconhecimento de que o poder se dá em rede, como disse Foucault. Dando-se em rede, não existem atores sociais preponderantes, mas sim atores sociais que medem seu papel no espaço público a partir do seu grau de influência no espaço público.
Logo, não me venha falar que é preciso uma política mais humanitária ou algo assim. E nem me venha falar de conscientização. Todo humanismo é um fascismo que conscientiza. Puro adestramento do humano, zoologização. Para quebrar a lógica do imediatismo que nos anestesia com o consumo e provavelmente evoluirá para a autofagia, é necessário que haja profundidade ao invés de velocidade. E para haver profundidade ao invés de velocidade, primeiramente é preciso haver o reconhecimento da alteridade do outro: o outro como igual mas diferente de mim. Precisamos de diálogo para construir conhecimento e reconhecimento: individual e coletivo, igualdade e diferença.
Caímos então na questão ética. Mas como a ética provém da moral, é necessário quebrar o ciclo imediatista de alguma forma. E como somos atores sociais em todas as nossas relações, pense em um corpo. Do mesmo modo, pense em um câncer. Se o câncer se alimenta do corpo, OK. É impossível evitar. Mas lembre que o câncer pode alterar o metabolismo de ao menos um dos órgãos do corpo. E para certos tipos de doença, nenhuma quimioterapia adianta. Mas será que ao invés disso não precisamos de uma análise psicanalítica de mais ou menos três décadas? Se for esse o caso, é possível que confundamos a analista com nossa mãe. Será amor à primeira sessão, o que não tem nada demais. “Não existe pecado do lado de baixo do Equador”.
Mas antes de tudo isso, acredito que o berço da nossa inércia está para o fato de que jamais houve uma revolução no Brasil. Tivemos apenas revoltas. Nossa independência política é fruto de um acordo de cavalheiros. E de lá pra cá, somente remamos a favor da maré que nos disseram ser a única. Os oligarcas de ontem continuam com nossos cabelos nas mãos: apenas camuflaram o cabresto com ajuda das agências de publicidade. Os laços políticos são reflexo dos laços sociais: uma “cosa nostra” sem senso de justiça. E os laços sociais são corruptos porque são egoístas e ainda assim pregam a compaixão: o solidarismo analgésico desses clubes grã-finos e das grandes empresas. Quanto ao poder do jeito que está aí, é questão edípica. E talvez esteja para uma visão sensual do Brasil. Afinal, todos querem tetas por aqui.
Reclamamos da alta carga tributária e da violência urbana, mas a questão maior é a nossa apatia frente ao que acontece no país. Falar em mesas de bar ou no Orkut pode ser um começo. Assistir ao Casseta & Planeta é rir da própria tragédia, o que é saudável. Mas ficar só nisso é pura falta de atitude, pois de uma ou de outra forma nossas discussões políticas tiram o corpo fora da própria política. Ou seja: a população faz o papel de “boazinha” e os políticos de “malvados”. Mas como disse Gramsci, o pior diagnóstico não pode passar ao largo da possibilidade de ação.
Por essas razões é que não é possível uma mudança de cunho vertical. Todo radicalismo é burro. A classe alta não fará nada e muito menos a classe baixa fará algo. FHC já falou em 1979 que no Brasil nunca houve um proletariado: apenas um operariado, porque até para a CLT existir, por exemplo, o ditador Getúlio Vargas teve que dar propulsão para a organização dos sindicatos. O povo não se articulou sozinho. Aceitou a merreca da CTPS em troca da sua liberdade. Assim, a única mudança possível parte do reconhecimento de que o poder se dá em rede, como disse Foucault. Dando-se em rede, não existem atores sociais preponderantes, mas sim atores sociais que medem seu papel no espaço público a partir do seu grau de influência no espaço público.
Logo, não me venha falar que é preciso uma política mais humanitária ou algo assim. E nem me venha falar de conscientização. Todo humanismo é um fascismo que conscientiza. Puro adestramento do humano, zoologização. Para quebrar a lógica do imediatismo que nos anestesia com o consumo e provavelmente evoluirá para a autofagia, é necessário que haja profundidade ao invés de velocidade. E para haver profundidade ao invés de velocidade, primeiramente é preciso haver o reconhecimento da alteridade do outro: o outro como igual mas diferente de mim. Precisamos de diálogo para construir conhecimento e reconhecimento: individual e coletivo, igualdade e diferença.
Caímos então na questão ética. Mas como a ética provém da moral, é necessário quebrar o ciclo imediatista de alguma forma. E como somos atores sociais em todas as nossas relações, pense em um corpo. Do mesmo modo, pense em um câncer. Se o câncer se alimenta do corpo, OK. É impossível evitar. Mas lembre que o câncer pode alterar o metabolismo de ao menos um dos órgãos do corpo. E para certos tipos de doença, nenhuma quimioterapia adianta. Mas será que ao invés disso não precisamos de uma análise psicanalítica de mais ou menos três décadas? Se for esse o caso, é possível que confundamos a analista com nossa mãe. Será amor à primeira sessão, o que não tem nada demais. “Não existe pecado do lado de baixo do Equador”.
Mas antes de tudo isso, acredito que o berço da nossa inércia está para o fato de que jamais houve uma revolução no Brasil. Tivemos apenas revoltas. Nossa independência política é fruto de um acordo de cavalheiros. E de lá pra cá, somente remamos a favor da maré que nos disseram ser a única. Os oligarcas de ontem continuam com nossos cabelos nas mãos: apenas camuflaram o cabresto com ajuda das agências de publicidade. Os laços políticos são reflexo dos laços sociais: uma “cosa nostra” sem senso de justiça. E os laços sociais são corruptos porque são egoístas e ainda assim pregam a compaixão: o solidarismo analgésico desses clubes grã-finos e das grandes empresas. Quanto ao poder do jeito que está aí, é questão edípica. E talvez esteja para uma visão sensual do Brasil. Afinal, todos querem tetas por aqui.