terça-feira, 19 de maio de 2009

O país dos coitados.

Não somos um país de coitados e nem temos moral pra afirmar isso. Que fomos e ainda somos explorados pelos países do norte durante vários séculos, isso é fato. Que os ídolos da nossa juventude alienada no mais das vezes proferem discursos vazios com face de ideologia burra, isso também é fato. Mas afirmar que por conta disso o Brasil não poderá ter o lugar que merece no cenário mundial é absurdo demais. Entretanto, tendo em vista a própria acomodação do povo brasileiro frente aos fatos do cotidiano, creio que nosso lugar de destaque no cenário mundial é cada vez mais mentiroso do que andam dizendo por aí.

Se o Lula é cumprimentado pelo Obama com ares de bons amigos, vá lá. Mas por qual motivo esse mesmo Lula precisa de uma quase Força Aérea Um se o próprio Primeiro ministro da Inglaterra transita pelo globo com aviões de linha? Sinceramente, tendo em vista as tantas e tamanhas desigualdades sociais que nos acometem, isso chega a ser arquerozo de tão perverso.

Claro que existem programas governamentais que criam condições de sobrevivência para as famílias mais pobres. Mas quando a concessão desses programas governamentais no mais das vezes necessita do aval das prefeituras de certos municípios, acabamos por cair na própria falta de coitadice do nosso povo. E por quê? Porque nosso povo é bem mais malandro do que coitado, sendo que esse discurso de que somos um país emergente que integra o que insistem em chamar de Terceiro Mundo, também não passa de uma canalhice.

Se um policial abordar alguém na rua por conta de uma infração de trânsito, é óbvio que alguns irão buscar meios de não serem multados por vias que não passam por nenhum padrão ético e moral. E se é assim, como queremos exigir ética e moral dos nossos governantes, os quais, e disso não me esqueço, dizem até que é chique emprestar dinheiro para o FMI? A depravação e a malandrice do povo brasileiro não tem limites.

Que existem pessoas trabalhadoras e honestas, existem. Mas o fato é que essas pessoas, de tanta sacanagem que todos os dias vêem, ficam se perguntando se realmente vale a pena ser trabalhador e honesto e então acabam por cair na malandrice e na canalhice cara ao nosso povo. E aqui não estou falando daquele malandro do Chico Buarque que passa o dia ganhando trocados em mesas de bilhar. Aqui estou falando daquele malandro que se aproveita dos outros, que mente para os outros, que passa a perna nos outros com o único intuito de se dar bem. Afinal, se tantos “boludos” fazem o que a lei não permite, por qual motivo o povo não poderia fazer o mesmo? Por isso que repito que a corrupção governamental tanto municipal quanto estadual e federal não passa de um reflexo da própria cultura brasileira.

Desde que os portugueses e espanhóis chegaram por aqui, essa cultura se instalou e tomou a face do chamado “jeitinho brasileiro”. Mas esse “jeitinho brasileiro” nada mais é do que um modo bondoso de chamar imoralidade e falta de ética de valor cultural ou o que o seja. E por falar em cultura, quem lê um livro ao invés de ficar assistindo os supostos costumes da Índia na novela das oito? E se lê um livro, que livro lê? Zíbia Gasparetto? Paulo Coelho? Augusto Cury? Lair Ribeiro? Dan Brown? Isso tudo não passa de pura literatura escapista, de pura fuga da realidade, de pura droga que está diretamente relacionada com o próprio crack que anda correndo solto pelas ruas de Santo Ângelo. A única diferença é que se uns matam seus neurônios com uma fumaça tóxica, outros matam seus neurônios com uma cultura besta.

Logo, que não nos façamos de coitados porque coitados não somos. Que fomos explorados, fomos sim. E que ainda somos explorados, somos sim. Mas de quê adianta a constatação desse fato se notícias cobrem notícias e sempre aparece um assassinato da hora pra todo mundo ficar indignado e no dia seguinte esquecer de tudo porque tem que trabalhar por uns trocados para sobreviver? A imbecilidade humana não tem limites. E o único futuro do brasil, como bem disse Olavo de Carvalho, é a perpetuação do Imbecil Coletivo, o qual, da escola à universidade, apenas repassa aos cidadãos uma suposta cultura pausterizada que em nada está para a própria compreensão da realidade.

Somos ainda reféns da Europa e dos Estados Unidos em nossos olhos e ouvidos. Somos ainda reféns de um “jeitinho brasileiro” que é canalha e sacana por natureza. E enquanto não houver uma mudança cultural efetiva em todos esses campos que se dizem detentores do saber e portanto podem vir a ser formadores de opinião, nada disso irá mudar. Continuaremos a ser um país de coitados que, antes de serem coitados, estão mais para bandidos do que qualquer outra coisa. E não me venham falar que um Deus nos salvará. Nossa moral e ética nem com Ele deve estar de bem.

6 comentários:

FabioZen disse...

Eduardo,
aconteceu um fato que talvez seja emblemático nessa coisa de "pais dos coitados".O Ronaldo "Fenômeno",que realmente é um jogador fora de série(para fazer o que vem fazendo com quase cem quilos,ele realmente é um extra-classe)em uma entrevista coletiva declarou que seu filho Ronald é quase europeu,pela educação e fineza.E mais, que prefere que o menino tenha amiguinhos europeus a tupiniquins,pois o brasileiro é muito malandro.Agora fica a pergunta-essa esperteza é tão ruim assim em um país onde as condições para a educação,saúde das classes menos favorecidas é precária?Já falaram em complexo de Macunaíma,o herói sem caráter,mas acho que não é bem assim,esse suposto "coitadismo"talvez seja mais uma
faceta ardilosa de um dos povos mais adaptáveis e situações que seriam desastrosas a outras nações!Talvez isso leve ao comodismo,mas enquanto isso vamos dando um jeitinho,né?

Canteiro Pessoal disse...

Nossa Eduardo, chocante tudo que acabo de ler e que há pura veracidade.
Bem, não vou no estender por aqui hoje, pois o silêncio me consome no momento.

Beijos mil !

Priscila Cáliga

gloria disse...

Eduardo, como vivo imersa nessa campo complexo da política, tenho o blog como espaço de exercício de construção literária. Desse modo, embora concorde com tua pespectiva de autonomia fictícia, discordo de:

E por quê? Porque nosso povo é bem mais malandro do que coitado, sendo que esse discurso de que somos um país emergente que integra o que insistem em chamar de Terceiro Mundo, também não passa de uma canalhice.

Isso me pareceu discurso dos colonialistas sobre o povo indígena. Poderíamos polemizar horas a fio....Por enquanto, posso dizer que ler tuas linhas é uma forma intensa de exercício da imaginação e do pensamento.

bjs

Julian disse...

Tchê,interessante o teu texto,
perfeito em cada frase.

...e sim,é logicamente impossível escrever nada

Biba disse...

Oi Edu, depois de tempos eu te visito, guri. Ando alucinando de tantos afazeres. Vida pós-moderna. Gostei do seu texto e do recado do Fábio. Bem legal.

Beijos,
Carpe Diem!!!

Danitza disse...

falta-nos rebeldia