quarta-feira, 13 de maio de 2009

É possível que exista uma oportunidade.

É possível que exista uma oportunidade.

Contudo, o fato de haver de um lado a possibilidade e de outro a oportunidade, considerando que tais termos giram em torno da própria existência, denota tanto a incerteza do antes quanto a incerteza do depois, sendo que há apenas um agora que se reveste de presente entre as indefinições do passado e do futuro.

Se realmente somos um hiato entre dois nadas, é entre a possibilidade de sermos e a oportunidade do que viremos a ser que residimos.

Porém, ao passo que nos encontramos nesse impasse de desconfiança eterna dentro da nossa finitude, concentramo-nos, no mais das vezes, em infernos de exatidão que apenas travestem nossa existência com traços matemáticos que em nada estão para a própria existência.

Se os números e as formas são a condição de possibilidade da linguagem, e portanto do humano, há como conceber a dicção dos números e das formas sem o uso da linguagem?

Obviamente não.

Lastrar aspectos formais da percepção humana tanto na matemática quanto na geometria, como queria Kant, é sintoma de uma concepção limitada do ser humano, visto que adstringe seu adjetivo mais intrínseco à frieza dos números e das formas.

Se residimos em um presente que se encontra entre a possibilidade e a oportunidade dispondo da linguagem para dizer da nossa existência, configurando-se esta, sumariamente, como um hiato entre dois nadas, já que, se por um lado tem a indefinição da possibilidade, por outro tem a angústia da oportunidade, ao mesmo tempo que somos um hiato entre dois nadas também estamos suspensos no próprio nada, já que teremos que construir nossa vida a partir da possibilidade/oportunidade de existir.

Entretanto, apesar de termos a possibilidade/oportunidade como portos que possibilitam essa construção, a própria possibilidade já traz consigo uma gama de fatores que indicam a possibilidade da possibilidade, isto é, para uma coisa ser possível outra coisa deve ser possível e assim sucessivamente.

Desta maneira, nossa construção se dará mais no viés da oportunidade que no viés da possibilidade, considerando-se, porém, que é a partir desta que traçaremos o que seremos.

Tendo possíveis passados erguemos oportunos futuros a partir da indefinição e da angústia que habita nosso presente.

Se somos, somos agora.

Não há forma que comporte o ser humano assim como não há espaço que comporte o tempo.

A existência, contudo, é o tempo.

Se é possível que exista uma oportunidade, é agora, e não no passado ou no futuro, que essa possibilidade fará o intercâmbio com essa oportunidade para erigir em substância viva.

Nossa forma é nosso corpo, mas a percepção que provém do cognoscibilidade do cognoscível não é apenas conhecimento.

Se o fato do coração bater implica no batimento, o fato de sentirmos implica no sentimento. E é o sentimento que traçará o que o conhecimento sempre procurará moldar.

O corpo é a forma do ser humano
assim como o tempo é o lugar do ser humano.

Conseqüentemente, entre nadas estamos suspensos no nada.

A oportunidade talvez seja a consciência da pele, pois não há como pensar sem ter os pés cravamos no chão, mas sabendo que a mesma matéria que compõe o chão compõe o universo e também nosso corpo.

Por isso é preciso sentir o tempo da terra, o tempo do cosmo, o tempo do corpo.

Por isso é preciso saber-se parte e todo ao mesmo tempo.

Por isso é preciso reafirmar o lugar que habitamos falando do lugar que habitamos e é preciso ser e vir-a-ser ao mesmo tempo, pois tudo é presente no campo das oportunidades e um presente no campo das possibilidades.

Nossa grandeza é o segundo que não percebemos infinitamente dividido pelo que somos, pois aponta para a possibilidade da oportunidade de viver esse segundo sem perceber esse segundo ao pensar esse segundo quando da divisão desse segundo pelo que somos.

A qualidade do ser humano é o tempo.

Mas é entre reticências, entretanto, que somos.

Se a reticência é o nada, antes de apenas riscarmos o vazio, arrisquemo-nos a ser a partir do que somos – ou seja: a partir de agora.

5 comentários:

Camila disse...

Sabe... sempre achei que o agora é para ser vivido intensamente, mas o agora é real e nao cabe sonhos.
O depois é mais fascinante, embora pouco confiavel.
O ontem foi. Não há como fazer nada para mudá-lo.
O tempo. Reticencias. Vida.
Tudo encaixado.
Indo.
O ser humano.

BeijOs
Ps. Gostei muito do seu comentário. Me fez pensar. Adoro isso. Outros beijos.

pensar disse...

Tuas palavras me calam em sentidos.
Que coisa maravilhosa me toca sem maos.E sim sejamos agora o eterno agora, a possibilidade unica de existir
Bjs

Canteiro Pessoal disse...

Nossa, estou enlouquecida por seu escrito. Palavras tão bem articuladas.
Parabéns !

Voltarei aqui, concerteza muitas vezes. Será parada obrigatória.

Priscila Cáliga

Anônimo disse...

Eduardo querido!
Teu texto é de uma categoria indiscutível. Articulamos as palavras de formas diversas, diferentes, mas rimamos na crença de que o verbo, escrito ou falado, ainda é uma das grandes formas de transformação.
Voilá... noblesse oblige!

Canteiro Pessoal disse...

Eduardo, agradecida sou pelo que escrevestes. Riqueza sem igual e intencionalidade que marejou meus olhos.
Subo ao palco, seu espaço apaixonante e solto horas partilhadas que não conseguirei esquecer, e, tecerei vindouros dias expondo-me no ficar de perfil nu no letral, beleza do atingir o mundo particular que me cerca.

Beijos mil querido.

Priscila Cáliga