domingo, 10 de maio de 2009

CANTO ANTIGO.

Se a ampulheta dos dias quebra na areia do tempo,
envidraçando as horas no deserto do agora.

Se o sopro dos anos anula minhas certezas
no calor da imagem perdida de um espelho esfacelado.

Se existe somente o brilho fugidio
de uma estrela temerosa entre o vazio e o fim.

Se pulsa no peito a palavra, o sangue e a voz
emudecendo o ruído de uma agonia que respira.

E se chegar até mim a doença de um passado
construído e erguido com recortes do presente,
quero saber o porque dos meus passos para trás
que avançam sem querer pela rua onde diviso
as parcelas do que fui em seqüências sem razão
que a luz de poucos postes faz chegar aos meus olhos.

Quero ter a nitidez de primeiro olhar o mundo
para só depois saber que o mundo olha pra mim.

Quero a paz de tardes quietas, de praças e de abraços
percorridos pelos passos das flores que estão no chão.

Quero o sabor da minha vida no paladar dos meus rumos.

Quero a lembrança e a certeza de saber que já senti.

Quero entrever momentos de silêncios e suspiros
que só corações molhados pelas chuvas de verão
podem recriar em cenas tão reais que são em sonho.

Quero ter para mim o que amei e vivi –
o que disse a pessoas que nunca mais pude ver.

Quero instantes pequenos com cheiro de doce e riso –
e quero também as coisas que jamais quis desejar.

Mas acima de tudo quero voltar a ser o que fui
quando nada de mim era ação, verbo e corpo.

E quero então saber que minha história só existiu
porque ao sol o infinito resolveu se fazer tempo.

Um comentário:

pensar disse...

Que lindo!!! Mas acho q tens tudo e tudo e' o agora.Desfrute.
Bjs