quarta-feira, 9 de setembro de 2009

"Rosa de Fogo".

Ligo a TV e passa um filme chamado “Rosa de Fogo”. O título original é “Spanish Rose”. Mas chamam ele aqui de “Rosa de Fogo”. A primeira tomada é banal. As tomadas subseqüentes também são banais. Pelas roupas e pelos carros, deduzo que é uma daquelas produções chatíssimas dos anos 80. O que isso poderia me dizer? Absolutamente nada. Então faço um chá de maracujá e venho pra frente do computador. Abrir uns sites de notícia ou alguns blogs seria uma boa pedida. A insônia normalmente é afeita a todo tipo de besteirol.

Lembro de quando era adolescente e passava na madrugada um programa onde mulheres seminuas dançavam dentro de enormes taças de martini. Como sempre fui desses que dorme lá pelas três da manhã e acorda cedo caindo de sono, pá e tá assistia esse programa. Não que seu conteúdo fosse interessante. Longe disso. Era um programa de perguntas e respostas que algum produtor gordo e fedendo uísque bolou pra entreter marmanjos insones ou simplesmente vagabundos. No meu caso era uma mescla de insone com vagabundo, já que todo cara com seus 14 ou 15 anos é mais ou menos assim. Apesar disso, acho que era melhor ver um programa desses do que buscar sites de notícia ou blogs pela rede. Com uma porcaria dessas passando na TV, pelo menos você tinha a possibilidade de enjoar daquilo e buscar um livro na estante. Comigo era o que acontecia. E quando cansava de ler, puxava um caderno e começava a escrever o que me vinha na cabeça. Foram essas noites que me fizeram aprender a escrever razoavelmente com o passar do tempo, apesar de tentar isso sem muito sucesso até agora.

Mas hoje um adolescente ou mesmo um camarada da minha idade certamente não fará isso. Sem sono, cairá na net com a intenção de conversar com desocupados no MSN ou olhar sacanagem nos seus e-mails. Raros são aqueles que ou buscarão um livro na estante ou escreverão em um caderno espiral seja lá o que for. Deve ser por isso que os jovens saem do Ensino Médio escrevendo tão mal e mal sabendo pensar. Parece que somente conseguem pensar dentro do contexto excessivamente resumido da internet. Seu mundo é http://. Pensam que pesquisar é dar um Google em qualquer assunto e deu. Não existe mais o gosto de abrir um livro surrado nas mesas da biblioteca pública. Claro que alguém poderia argumentar que a internet traz muito mais informações que uma biblioteca pública. Mas como dizia o Fausto Wolff, informação não é cultura. E aí que as coisas começam a ficar complicadas.

Me pergunto isso quando penso na expressão “inclusão digital”. O que verdadeiramente significa isso? Com certeza que um conhecimento mínimo do Word é essencial nos dias de hoje. Mas até que ponto vai essa “inclusão digital”? Alguns amigos chegam a me dizer que os livros desaparecerão em seu formato clássico. “O papel será banal”, falam. Rebato que pelo menos para mim não será. Digo que jamais trocarei livros amarelos por um notebook novíssimo. Diante disso, dizem que ainda vou aceitar isso normalmente. E infelizmente começo a acreditar que será possível.

Se lá na minha adolescência, tempo de internet discada e MS-DOS, eu mal ficava no computador a não ser pra jogar Stunts ou Sim Farm, hoje venho para o computador normalmente para escrever. Não mais puxo de um caderno espiral para isso. Minha grafia tem ficado cada vez mais ilegível. De uns anos pra cá, me obriguei a deixá-la decifrável por ser professor e ter a mania de montar esquemas conceituais imensos no quadro. E certamente será algo assim que ocorrerá com a maioria das pessoas. Mas no fundo, ainda que isso dê uma discussão interessante, não me interessa muito. As coisas mudam, a vida muda, nós mudamos. E de uma ou de outra forma, sempre existirão vagabundos e outros nem tão vagabundos assim que passam pela insônia.

Nessa insônia continuarão a existir programas bestas na TV e filmes sem a menor criatividade passando de canal em canal. Permanecerá talvez apenas a palavra que cada um registra seja da forma que for, em livros ou em HDs pela rede. A questão será saber se continuarão traduzindo “Spanish Rose” como “Rosa de Fogo”. Convenhamos que os puritanos chamarão isso de incitação à pornografia. Por essas e outras é que navegar nem sempre significa ter um rumo. Normalmente significa estar à deriva. E pior: sem perspectiva de salvação.

P.S.1: A net também tem suas genialidades fast-food. Descobri que o tal filme é de 1993. A paspalhice não tem idade e muito menos década.

P.S.2: Ainda quanto ao filme, joguei no Google o título do dito pra ver se achava um cartaz e colava aqui. Achei só uma imagem minúscula. Por isso atirei ali em cima uma telinha verde dos tempos jurássicos do MS-DOS. Pelo visto eu nem era nascido quando essa foto foi tirada. E se me perguntarem do diretor do filme, não tive a menor vontade de pesquisar. Dêem um Google nele.

P.S.3: Não se sintam ofendidos com meu texto. Mas se se sentirem, por mim OK. Reconheço que nem tudo que existe na internet seja tão ruim assim. Se tudo fosse, esse espaço e os espaços de vocês que me visitam estariam inclusos. E pelo menos ao nosso gosto não estão. Fato é que não confio nadica de nada na web. Mas é algo como não confiar em mulheres e não viver sem elas. Por isso, isso.

P.S.4: O mês de agosto foi o menos produtivo da história desse blog. Não se trata de uma história longa. Mas isso não sonega o fato da baixa produtividade do mês de agosto. Se eu fosse místico, diria que é culpa dos astros. Faço aniversário no dia 17/08, o que talvez tenha me incutido um karma que me impossibilitou de escrever. Já indo pro lado pragmático, poderia dizer que tive muitos afazeres nesse mês e que essa é a razão do silêncio. Porém nenhuma das duas alternativas serve. A realidade clara e simples é que sem querer acabei dando uma certa roupagem pra esse espaço. E quando costumamos aparecer para as pessoas de chinelo e bermuda, é um tanto estranho aparecermos de terno e gravata numa ocasião completamente banal. Isso explica tudo. Acontece que as coisas não deveriam ser assim. Já postei contos, poemas, crônicas e alguns artigos quase-científicos por aqui – aliás, melhor chamá-los de ensaios, pois é isso que são. Mas com o tempo você acaba meio que canalizando esforços para um tipo de texto e esse texto aprisiona você. É como ser funcionário do Banco do Brasil por mais ou menos 25 anos e achar que será capaz de empreender algum negócio com a grana que veio do programa de demissão voluntária. Simplesmente não cola. Por isso preferi me aquietar. Nesse mês de setembro certamente aparecerão mais algumas coisas por cá. Tentarei voltar praquela minha face de muitas faces que na verdade sempre acusa quem é. É isso ao menos que julgo importante dizer agora. Falar mais seria mentira. Quanto mais prometer. Por isso meus 3 ou 4 leitores podem ficar tranquilos. Eu estou vivo. E não escrevo só pra sentar a ripa no governo ou incitar suicídios em massa. Mas nem tudo que escrevo é publicável. Tenho bom senso. E era isso.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei tão empolgada de ver um post novo que nem li, vim direto comentar! rsrsrsrs... FINALMENTE! (vou espiar com calma agora!)

Anônimo disse...

O DOS era bem melhor que o Windows Vista! hahahaha!(pode apagar depois...)

João Pedro disse...

eu gosto destes filmes na TV... desde q não seja exatamente de madrugada.

Priscylla de Cassia disse...

ternas suas justificativas...

obs. será q alguém procurou o diretor? rs