quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010.

Cerveja na garganta, champagne na geladeira e ano novo chegando. E ainda por cima, o blog completando um ano e pouco de existência. Tudo foi ótimo até agora. E espero que se torne melhor ainda nesse ano que se anuncia daqui uma hora. Um sincero abraço para todos aqueles que me acompanharam até esse momento. E pra não perder o lugar comum, um feliz 2010 a todos!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Exercício n° 133.

Não há nada a fazer quando tudo está gasto. Quando a bile expeliu seu musgo no estômago e o estômago vazou para os pulmões, o que resta é a espera. E ela não precisa ser triste: nada precisa, ainda que a terra seja negra e os territórios sejam territórios porque alguém disse que são. A única fronteira do homem é seu corpo. O único obstáculo do homem é sua forma. Pele, carne, tudo que dança no espaço-tempo do cosmo, é esperança aqui e em nenhuma outra parte. As cenas se repetirão e as ramagens da vida, antes plena de expectativas, estarão restritas ao teto de um quarto vazio, onde flores mortas esperam pelo último veneno em um vaso de água podre. Alguns irão te visitar, dirão palavras que esperam ser ditas. Mas a razão, aquela que tu tinhas e acabou perdendo nas brechas do teu crânio, essa jamais retornará. O círculo se fechará a partir do momento que teus olhos cerrarem. Ninguém segurará tua mão. Cairão lágrimas sem remorso. Logo o esquecimento será o único verso da tua existência. Perdurarão engravatados ganhando em cima da tua criação que, antes opaca, oca de sentido, cairá nos olhos daqueles que servem para dizer se ela vende ou não. Após tua morte é que te tornarás único. Após teu fim é que tua palavra será ouvida. Mas de que adianta se nada dirás? Teu sexo tocará apenas a terra úmida de prazeres. Teus braços e ossos serão alimento para vermes, moradores da terra que lá estiveram sempre a te esperar. Tempestades cairão sobre teu túmulo. Sóis nascerão e luas surgirão para tua lápide. Mas lá dentro, tu não perceberás nada. Serás comida e com o tempo nem isso. Se um dia alguém perturbar tua solidão, encontrará teu crânio de olhos arregalados, assustados pela invasão. No mais, apenas prédios, ruídos de carros que cruzam e motos que rangem como cavalos que não sabem o que são. No mais, mulheres atrás de homens e homens atrás de mulheres com a garganta cheirando cerveja. Mas tu não participarás disso. Nem mais lembrarão teu nome. Voltará na memória de alguns poucos tua imagem, teu porte, teu cabelo. Tua palavra, aproveitada por aqueles que agora dirão que ela realmente diz algo, é que ressuscitará teu cheiro a cada olhar caindo sobre ela. Mas nem assim tu estarás presente. Estarás enterrado, cravado nas entranhas da terra até que o final disso tudo chegue. Então te levantarás, percebendo que nada mudou e tudo continua como antes. Os territórios continuam a ser territórios e as armas continuam nas mãos de quem pode ter armas. Tua voz preferirá o retorno, mas já não haverá como retornar. Condenado a essa nova vida, a única coisa que te fará chorar será o primeiro raio de luz tocando teu olho quando todos os vulcões enfim cuspirem o sangue da terra para a pele do mundo. Sorrirás, dizendo que isso é bom e justo. E carbonizado serás eterno, feito de pedra que não se gasta, mas sim perdura como tudo aquilo que não deverias fazer e fez. Esse é o meu conselho. Crê que não sou pessimista. Apenas digo do teu coração, pois orbitar eternamente em torno de si, é como negar que teu rosto só existe por conta de outro rosto que numa tarde te beijou, te amou e disse que o sangue é o espírito do corpo e que devias te contentar com isso. Afinal, estavas vivo. E estarás mais vivo quando antes de seres pedra, te tornes fogo, e antes de seres fogo, percebas plenamente a futilidade da tua forma por vir, arrasada pela argamassa da lava e liquefeita por tudo aquilo quando em vida tu te propôs a gastar pelo teu corpo. No fim das contas, será o teu sorriso que ficará eternamente ancorado na porta da tua lápide, porque nada, absolutamente nada precisa ser triste quando tudo está gasto.